Um grito de amor do centro do mundo | A sensibilidade da juventude

Capa do livro Um grito de amor do centro do mundo
Sekai no chuushin ai wo sakebu, de Kyoichi Katayama, foi publicado originalmente pela Shogakukan em 2001 no Japão, atingindo mais de um milhão de cópias vendidas. A obra conta uma história de amor, já revelando seu desfecho trágico - a morte da garota - desde o início.

A comoção em seu país de origem foi tão grande que acabou dando origem a outros materiais relacionados ao livro, tais como: mangá (publicado com o título Socrates in Love), jdrama e filme para o cinema. Todos com grande sucesso.

No Brasil, UM GRITO DE AMOR DO CENTRO DO MUNDO chegou em 2011 pela editora Alfaguara. Dos demais produtos relacionados, apenas o mangá foi publicado por aqui pela JBC, em 2007. O JDrama e o filme não foram lançados oficialmente no país.

A Observação a seguir expõe a questão do 'amor puro' na juventude japonesa atual, como exposto no livro, e procura traçar parâmetros de comparação com a brasileira.

INTRODUÇÃO

Aki já está morta no começo do livro, mas esta é uma história sobre a saudade. Poderia ser enfadonha, e às vezes o é, só que trata de maneira interessante a libertação de um amor perdido e as paixões da juventude. Para fechar, é um livro sobre seguir a vida, sem esquecer aqueles que passaram por ela.

Sakutarô e Aki conheceram-se ao acaso no início da adolescência. Ele fã de rock. Ela adora hortênsias. A aproximação cada dia maior os levou àquelas paixões que costumam acontecer entre pessoas que andam muito juntas no começo da juventude. E, então, eles se amaram. Entretanto, em uma de suas peças mais cruéis, quis o destino impor uma doença praticamente incurável neste relacionamento. Ela adoeceu e morreu. Ele não quis esquecer.

O LADO BOM DE SER JOVEM

A juventude para muitos não é apenas uma virada de página na vida, é um calhamaço inteiro. Uma mudança completa e inevitável até se chegar a fase adulta, mas em meio a isso um turbilhão de coisas novas. Há certa ingenuidade, incertezas, espertezas e despreocupação com o mundo.

Por conta disso, é de se esperar que montar uma história narrada em primeira pessoa com um personagem neste momento único não deva ser a tarefa mais fácil de um escritor.

Kyoichi Katayama consegue-nos transmitir o pensamento de Sakutarô, ainda que com certas falhas. Há algo na juventude que nos dá a certeza de sermos conhecedores da verdade universal. Isso não dá a total liberdade ao autor de exagerar nas conversas sem sentido e totalmente fora de um contexto.

“- O que é que você acha estranho na lua de mel?
- Não sei.
Peguei um biscoito da caixa. A cobertura de chocolate já estava meio derretida. Ainda estávamos numa estação assim.
- Pensando bem, realmente é estranho.
- Não é mesmo?
- Eu e você em lua de mel...
- Não é engraçado?
- É como se a Madonna dissesse: ‘Na verdade, ainda sou virgem.’
- O que é que você está querendo dizer?
- Sei lá.” (pág. 54)

Capa do mangá Socrates in Love
Mangá (lançado no Brasil pela JBC)
“- Você já ouviu falar monjas? – ela perguntou, depois de um tempo.
- As monjas budistas?
- Antes de ficar doente, cheguei a pensar em entrar para um mosteiro, caso você morresse e me deixasse sozinha.
- Você tem cada ideia!” (pág. 96)

Mas Katayama acerta em pontos importantes também. Ao nos relatar a relação do jovem casal, somos levados a acompanhar o início da puberdade de ambos e o receio (medo) de iniciar uma relação sexual.

“(...) Por isso é que ela veio com a história de ‘Saku-chan! No próximo feriado, vamos ao zoológico?’, mas se ela acha que vou ficar contente vendo o guaxinim e a cobra píton, está redondamente enganada, em vez disso, preferiria mil vezes que ela deixasse beijá-la ou deixasse tocar pelo menos os seus peitos... Mas, apesar de querer isso, jamais teria coragem de dizer a ela. Afinal, sou um sujeito tímido” (pág. 58-59).

O LADO RUIM DE SER JOVEM

Capa da dorama Um grito de amor do centro do mundo (Sekai no chuushin de ai wo sakebu)
Cartaz da novela ou JDrama
Se tudo que acontece de bom na geração Y1 e Z2 pode ser multiplicado por 10, o que acontece de ruim é multiplicado por 100. Se antes tínhamos os filmes Curtindo a Vida Adoidado3 e Os Goonies4 como sinônimo daquilo que a juventude era, ou queria ser, hoje a representação está em personagens mais ‘filosóficos’ e sofredores, como Harry Potter5 e Bella Swan, da série Crepúsculo6.

Em outras palavras, agora sem metáforas, Um Grito de Amor do Centro do Mundo mostra o desafio de Sakutarô em lidar com a morte de Aki. Mesmo ainda sendo jovem, ele considera essa a relação mais importante de sua vida e não quer esquecê-la jamais.

O livro talvez não funcionasse há alguns anos, mas Katayama acerta o âmago da geração atual. Antes seu personagem até poderia virar um adulto precoce em busca da vã tentativa de ajudar a amada, agora permanece prematuro ao lidar com a situação mesmo anos depois. Não que isso seja ruim, são apenas ângulos diferentes do mesmo tema anos antes ou anos depois.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aki ainda está viva no fim do livro, afinal esta é uma história sobre a memória. A muitos parecerá exagerada, e às vezes o é, mas lida muito bem com o nascimento de um amor na juventude e em como jamais você deve deixar de realizar o último pedido de alguém, por mais absurdo que seja. Para fechar, é um livro sobre como a vida termina para uns, mas também como ela não termina para outros.

Sakutarô e Aki conheceram-se ao acaso no início da adolescência. Ele morava em uma casa ao lado da biblioteca. Ela tinha um quarto arrumado e perfumado. O tempo até poderia querer vê-los distante, mas a paixão que os uniu o transcendeu. E então, ele jamais a esqueceu. Os anos se passaram, ele cresceu, se mudou e conheceu uma nova garota, a quem possivelmente jamais contou sobre Aki. Ela pode ter morrido, mas ele sempre se lembrará daquele sorriso.
Capa do filme Sekai no chuushin de ai wo sakebu
Cartaz do filme para cinema

UM GRITO DE AMOR DO CENTRO DO MUNDO
Nome original: Sekai no chuushin de ai wo sakebu
História: Kyoichi Katayama
Editora: Alfaguara
Número de páginas: 160
Ano de lançamento: 2011

GLOSSÁRIO

1Geração Y – Conceito da Sociologia para definir geração de pessoas nascidas após 1970 ou 1980 até meados da década de 1990. Também chamada de Geração do Milênio ou Geração da Internet. Obs.: datação varia de acordo com pesquisador.

2Geração Z – Conceito da Sociologia para definir geração de pessoas nascidas após a segunda metade da década de 1990 até os dias de hoje.

3Curtindo a Vida Adoidado – Filme de 1986, com direção de John Hughes e estrelado por Matthew Broderick. A história trata de um jovem que, para aproveitar a vida, finge estar doente para matar aula junto com sua namorada e o melhor amigo.

4Os Goonies – Filme de 1985, com direção de Richard Donner e produção de Steven Spielberg. Um grupo de garotos resolve organizar uma cerimônia de despedida do bairro onde moram, que será demolido, quando descobrem um legítimo mapa do tesouro, capaz de torná-los ricos e evitar a destruição de suas casas.

5Harry Potter – Série de livros de J. K. Rowling publicada entre 1997 e 2007 contando as aventuras fantásticas do personagem título.

6Crepúsculo – Série de livros de Stephenie Meyer publicada entre 2005 e 2008 contando histórias de vampiros e lobisomens.

2 comentários:

  1. Oi senhor Tiago, sabe qual o problema de ler os seus posts? É que eu fico curiosa para ler o texto na íntegra e como você bem sabe, ultimamente eu não tenho tempo nem para dormir... risos.
    Amei a análise de "Um grito de amor do centro do mundo", pois trata de um sentimento do qual é tão difícil de se desvencilhar. Não estou falando do amor, mas da saudade. Saudade que muitas vezes é o vazio de algo que nem aconteceu, é a idealização de um relacionamento que caso se tornasse real não teria a metade da beleza de nossos sonhos. Outras vezes é a saudade de algo vivido de maneira incompleta, são as reticências sempre acompanhadas de um "se". Se eu tivesse dito, ou se eu tivesse simplesmente me calado.
    Quando a separação vem pelas mãos negras da morte, ainda há o consolo de que havia uma chance e o destino não permitiu que ela se concretizasse. Sei que é um consolo um tanto quanto fúnebre, mas nos valemos ao longo da vida de tantas desculpas infundadas e sentidos mágicos para os acontecimentos. Pior é a saudade de alguém que não está distante, que seria facilmente encontrado, mas que se prefere manter longe por medo ou conveniência. Pior é a saudade de quando tinhamos certas esperanças infantis, quando tudo parecia possível ainda que improvável. Na verdade, admito que detesto a angústia causada pela saudade, mas é um vício do qual não pretendo me curar por enquanto... Ter saudade é alimentar a imaginação ainda que doentia, mas como são bons certos pesadelos quando sabemos que a qualquer momento podemos acordar.

    bea,
    AC

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  2. Olha só, moça! Fico muito feliz que mesmo na correria tenha passado por aqui para deixar um comentário deveras bondoso.
    Concordo plenamente contigo e sua frase final foi de matar. A saudade é mesmo algo complicadíssimo, mas tem seus lados positivos...
    Beijos. Tiago.

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