Como a geração sexo-drogas-e-rock'n roll salvou Hollywood | Como Lucas e Spielberg destruíram Hollywood

Capas dos livros Como a geração sexo-drogas-e-rock'n'roll salvou HollywoodA Era de Ouro do cinema havia acabado. Durante os anos 1960 Hollywood rastejava. Não que não houvessem ótimos filmes. Lawrence da Arábia (1962), Cleópatra (1963), Mary Poppins (1964), Minha Bela Dama (1964) e A Noviça Rebelde (1965) são bons exemplos. Mas a indústria cinematográfica do país encontrava-se estagnada na mesmice, nos filmes grandes e caros, mas sem nada muito revolucionário.

Peter Biskind, autor do livro aqui Observado, afirma logo no prefácio que “os grandes diretores da era dos estúdios (como eram conhecidos nos anos 1960), como John Ford e Howard Hawks, viam-se como simples empregados (muitíssimos bem) pagos para fabricar diversão, contadores de histórias que evitavam ao máximo tomar consciência de algo parecido com estilo, com receio de que isso interferisse no ofício”.

COMO A GERAÇÃO SEXO-DROGAS-E-ROCK'N'ROLL SALVOU HOLLYWOOD: EASY RIDERS, RAGING BULLS parte deste ponto para mostrar como por mais de uma década a chamada Nova Hollywood deu uma nova guinada no cinema estadunidense para que depois tudo fosse jogado fora.

O MUNDO NOS ANOS 1970

Os anos 1960 foram extremamente agitados. A contracultura nascia juntamente ao movimento hippie, protestos contrários a Guerra Fria e a Guerra do Vietnã. John F. Kennedy subia ao poder e acabara assassinado. A música era revolucionada com Elvis, Beatles, Bob Dylan e Bob Marley, assim como a arte com Andy Warhol e Roy Lichtenstein. Martin Luther King Jr. também acabaria morto, poucos anos depois de receber o Nobel da Paz.

Capa do filme Bonnie e Clyde - Uma rajada de balasO cinema Hollywodiano, entretanto, tardou em reagir. Coube a nomes como Warren Beatty, Peter Fonda, Dennis Hopper, Bert Schneider e Bob Rafelson o início da revolução. O primeiro foi responsável por Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas (1967), sucesso ao explorar a temática do anti-herói. Fonda e Hopper foram artífices do cinema rodado com pouco roteiro, apenas dois motoqueiros rodando os Estados Unidos. O título resumia tudo: Sem Destino (1969). Copiado intensamente no começo da década seguinte, o filme não seria nada sem a Raybert – de Schneider e Rafelson, mais tarde renomeada BBC com a entrada de Steve Blauner.

Capa do filme Sem destino (Easy rider)Inicialmente a produtora, aproveitando a moda iniciada pelo filme Os Reis do Iê Iê Iê (1964), com os Beatles, criou a série de TV The Monkees (1966-1968). O sucesso veio rapidamente, bem como o dinheiro. Mas aquilo parecia pequeno demais para Schneider e Rafelson. Com um acordo de financiamento e distribuição para filmes de baixo orçamento com a Columbia nas mãos, a BBS conseguiu com que Sem Destino fosse um sucesso.

A produtora começaria a década como local de concentração de novos diretores, mas terminaria o período totalmente sem fôlego, muito por conta do desinteresse que Schneider viria a ter com o cinema.

QUANDO TUDO COMEÇOU A DAR CERTO

Dado o primeiro passo, a indústria cinematográfica finalmente voltou a andar. Sinais passaram a vir de todos os lados: Robert Altman emplacaria M*A*S*H (1970) e em seguida Quando os Homens são Homens (1971); Peter Bogdanovich marcaria com A Última Sessão de Cinema (1971); e Rafelson com Cada um Vive Como Quer (1970).

Neste novo paradigma, os diretores da Nova Hollywood (como os jovens em ascensão nos anos 1970 passaram a ser chamados) “não tinham vergonha – e, em muitos casos, com toda a razão – em assumir o manto do artista, e tampouco hesitavam em desenvolver os estilos pessoais que os distinguiam de outros diretores”, afirma Biskind.

Vale mencionar que dois dos diretores mais famosos do período, Stanley Kubrick e Roman Polanski, embora tenha produzido grandes filmes nos anos 1970, não são considerados desta geração por terem consolidado suas carreiras na década anterior.

Os anos seguintes também foram se mostrando favoráveis. Novos – e bons – diretores e roteiristas vieram a surgir, mas foi a ascensão de um em especial que chamou mais a atenção da indústria e do público em geral: Francis Ford Coppola.

A princípio, Coppola recusou O Poderoso Chefão (1972). “O diretor se via como um artista. O Poderoso Chefão era a repetição de O Caminho do Arco-Íris (seu filme anterior): um best-seller, material de outra pessoa e, pior ainda, material inferior à sua capacidade”. Mas sua situação financeira e o peso de mostrar às pessoas de sua produtora, a American Zoetrope, e de toda a indústria o seu potencial não permitia esta posição.
Capa do filme O poderoso chefão (The Godfather)

O resultado foi um dos filmes mais assistidos, elogiados e lucrativos de todos os tempos. Feito a ser seguido por: O Exorcista (1973), de William Friedkin; O Poderoso Chefão: Parte II (1974), do próprio Coppola; Tubarão (1975), de Steven Spielberg; e Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977), de Lucas.

Outros nomes talentosos também seguiram o sucesso, embora nem sempre com tanta rentabilidade. Casos de Martin Scorcese (de Taxi Driver [1976]), Terrence Malick (de Terra de Ninguém [1973]) e Michael Cimino (de O Franco Atirador [1978]). Marcando uma década de florescimento de ideias e inovações para o cinema estadunidense.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mas afinal, você deve estar pensando, por que e como Lucas e Spielberg teriam destruído Hollywood naquele período.

É bastante provável que o título desta Observação tenha sido tendencioso. Os dois diretores ajudaram sim a devolver os filmes para os estúdios no final da década, valorizando ao máximo a imagem/ação em detrimento da história, além de inaugurar o que se tencionou a chamar de blockbuster. Entretanto, a queda de qualidade dos filmes, e consequente perda do público, dos principais diretores da Nova Hollywood foi o principal ponto em questão.

Capa do filme Touro Indomável (Raging Bull)Capa do filme Apocalypse Now
Lua de Papel (1974) foi o último sucesso de bilheteria e crítica de Bogdanovich. Friedkin afundou-se ao dirigir O Comboio do Medo (1977), refilmagem de um dos grandes sucessos de cineasta francês Henri-Georges Clouzot. Enquanto Hal Ashby e Altman teriam seu último suspiro de sucesso com Shampoo (1975) e Nashville (1975), respectivamente, Coppola e Scorcese selariam a década com os clássicos Apocalypse Now (1979) e Touro Indomável (1980) antes de sumirem por anos.

Pelo bem ou pelo mal, os anos 70 serão para sempre lembrados na história de Hollywood.

COMO A GERAÇÃO SEXO-DROGAS-E-ROCK’N’ROLL SALVOU HOLLYWOOD: EASY RIDERS, RAGING BULLS
Nome original: Easy Riders, Raging Bulls: How the sex-drugs-and-rock’n’roll generation saved Hollywood
Autor: Peter Biskind
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 504
Ano de lançamento: 2009
obs.: o livro foi lançado com duas capas. Uma faz homenagem a Sem Destino e outra a Touro Indomável, filmes que abrem e fecham o histórico da obra.

2 comentários:

  1. Esse livro é cheio de informações e passagens engraçadas. A certa altura, o autor descreve as grosseriais que caracterizavam o comportamento de Willian Friedkin, que agredia, ofendia e demitia todo mundo a todo momento, mas chora como criança quando atropela um porco. Sensacional.
    Franklin Sheen
    www.revistainterludio.com.br

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    1. Aí, Frank, esqueceu de mencionar as reclamações do Friedkin de que até uma árvore encenaria melhor que os atores e que, no fim, ele acabou mesmo fazendo um filme com árvores....rsrs.
      Gosto também da parte em que o autor descreve a piração total do Coppola quando resolveu filmar Apocalypse Now no meio da selva.
      Muito bom o livro mesmo.
      Abraços e obrigado mais uma vez pela observação.

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