Este tom de mistério e suspense permeia a história Rio Negro / O Templo dos Maias de MISTER NO2. E assim como praticamente todas as aventuras da Sergio Bonelli Editore, também sobra espaço para muita ação, emoção, comédia e até romance.
O que mais chama atenção é a inserção do Brasil e dos Maias na mesma história. A Observação a seguir visa mostrar este Brasil e tentar traçar parâmetros com a realidade. Afinal, em Mister No, estaria o país verdadeiramente retratado?
A CIVILIZAÇÃO MAIA
Para fins de localização, a lendária civilização teve início há mais de três mil anos (segundo evidências arqueológicas), alcançando seu auge entre os anos 250 d.C. e 900 d.C., quando habitou grande parte do México e o norte da América Central (onde hoje se localiza Guatemala, Belize, El Salvador e Honduras). Ficou conhecida pela riqueza do sistema de escrita e da cultura, dos estudos matemáticos, astronômicos e suas construções. Iniciou sua decadência entre os séculos VIII e IX, até ser absorvido pela expansão do império Asteca no século XV.

Ao mesmo passo, vale a pena dizer pontos que ficaram sem respostas. Por exemplo, por que o tal grupo maia se limitou apenas a poucos metros quadrados em meio à floresta? Que fim teve essas pessoas? Infelizmente, a pirâmide – que era uma das poucas coisas relacionadas ainda em pé e poderia ser a fonte solucionadora – desmorona ao fim da história.
O BRASIL E A AMAZÔNIA
Já nosso país tem um de seus territórios menos habitados apresentado. E, embora seja italiano, Nolitta trata com muito cuidado a localização da história. Observe essas duas passagens:

E as pessoas? Dirão vocês. Bem, as pessoas estão habituadas. Aceitam a coisa com a tradicional filosofia sul-americana e esperam... esperam que a incrível cortina líquida se dissolva e se preparam para suportar a inevitável consequência do retorno do sol e do calor, um calor tão úmido e debilitante a ponto de tolher a força de mover um dedo” (pág. 5-7).
2º) “A fresca noite tropical transcorre tranquilamente e quando o sol se tinge com as rosadas cores da aurora o mais madrugador dos Tukanos sai ainda meio sonolento da cabana para reatiçar as brasas sobre as quais vai assar o seu alimento cotidiano, as enormes bananas chamadas ‘platanos5’” (pág. 61-62).
Outros momentos chamam a atenção para a fauna e a flora, sem o uso do narrador, como quando o navio, embarcado pelos aventureiros em busca da cidade Maia liderados por Mister No, fica preso em meios as tapaias6 e quando Dana Winter – um cantor estadunidense que por conta de uma sucessão de confusões acaba junto com o grupo – é atingido por um dardo de uma zarabatana embebido em curare7.
EXEMPLOS DE OUTRAS HISTÓRIAS QUE SE PASSAM NO BRASIL


As histórias se divergem bastante no enredo e no desenrolar. Mas este fato pode ser explicado pela origem das publicações. Vamos aos fatos.
Rio de Sangue foi escrito por Joe Casey e desenhado por Oscar Jimenez. Na história, Wolvie vem para o Rio de Janeiro para rever um amigo e lida com uma seita de vampiros. Esta edição, produzida pela própria Marvel Comics em um especial lançado nos Estados Unidos originalmente em 1998, mostra um policial de bigode a la Salvador Dalí e de chapéu, um tubarão branco na praia carioca e o herói carrancudo bêbado torcendo para o Vasco!

Resumindo, o Brasil quase sempre é mal retratado nas HQs que não são daqui. Mesmo com a tecnologia, parece haver uma preguiça dos autores em pesquisar melhor as diferenças de nossas cidades ou as características físicas entre nós e 'nuestros hermanos' latinos. Até mesmo os nossos nomes acabam criados semelhantes aos deles, como se pode ver nos heróis ‘brasileiros’ Fogo, de nome Beatriz Bonilla da Costa (da DC Comics), e Mancha Solar, Roberto da Costa (da Marvel).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nestas duas edições de Mister No somos apresentados a uma nova civilização e biodiversidade sem cair no didatismo – risco comum de histórias que se preocupam em resgatar períodos históricos ou locais reais muito específicos, como é o caso. Contribui para este aprendizado também os desenhos perfeccionistas de Roberto Diso.
Nolitta já chegou a revelar em entrevistas sua paixão pelo Brasil e as viagens para o Pantanal e para a Amazônia para coletar informações. Não é a toa que poucas foram às vezes em que o personagem sob sua tutela daqui se afastou. Destaque para suas viagens à África e à Rurrenabaque, pequena cidade da Bolívia para onde Mister No parte ao fim de suas aventuras.
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Mister No retratado por vários desenhistas ao longo dos anos |
Embora não tenha sido o caso de apontar aqui nesta Observação, a narrativa em Rio Negro / O Templo dos Maias é bastante concisa e instigante, daquelas que se tem que prestar atenção nos detalhes. A história é bastante centrada no personagem principal, de modo que acompanhamos todos os seus passos, desde antes da aventura até após seu término.
O resultado final é uma mescla interessante em uma boa história.
MISTER NO #6 – RIO NEGRO
Roteiro: Guido Nolitta
Desenho: Roberto Diso
Editora: Record
Número de páginas: 172 páginas
Ano de lançamento: 1991
MISTER NO #7 – O TEMPLO DOS MAIAS
Roteiro: Guido Nolitta
Desenho: Roberto Diso
Editora: Record
Número de páginas: 172 páginas
Ano de lançamento: 1991
GLOSSÁRIO
1Tukanos – Aparentemente uma tribo indígena inventada pela autor.
2Mister No – Personagem criado em 1975 por Sergio Bonelli (utilizando o pseudônimo de Guido Nolitta) e Gallieno Ferri. Seu nome verdadeiro é Jerome ‘Jerry’ Drake, um piloto estadunidense sobrevivente da Segunda Guerra Mundial que abandonou sua pátria desiludido com a violência e as imposições da sociedade ocidental. Em sua fuga, escolhe morar em Manaus, situada no coração da Amazônia. Nesta cidade, compra um velho Piper (avião monomotor) e passa a ganhar a vida como guia turístico. Honesto, sincero, amante do álcool e de mulher bonita, preguiçoso, mas pronto a se atirar em aventuras, é um rebelde por natureza, como demonstra seu apelido. A revista deixou de ser publicada no número 379 (dezembro de 2006) após Bonelli declarar que todas as aventuras possíveis dele já haviam sido lançadas.
3Guido Nolitta – Pseudônimo de Sergio Bonelli (1932-2011), falecido diretor e dono da editora italiana que leva seu nome, e criador dos personagens Zagor e Mister No.
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Sergio Bonelli e o principal personagem de sua editora, Tex |
5Platanos – Uma variedade da banana de polpa mais rija e casca mais firme e verde, também conhecida como banana-pão ou plantains, que chegam a ter de 30 a 40cm de comprimento, e são consumidas fritas, cozidas ou assadas, constituindo o alimento base de muitas populações de regiões tropicais, onde, muitas vezes, ocupam o lugar de pão às refeições.
Callitriche Deflexa ou Tapete-verde |
7Curare – Nome comum a vários compostos orgânicos venenosos conhecidos como venenos de flecha, extraídos de plantas da América do Sul que possuem intensa e letal ação paralisante.
O pior é que nem os brasileiro valoriza isto aqui outro heroi que viveu umas aventuras por aqui foi Jonah Hex!
ResponderExcluir30 DE JANEIRO DIA DO QUADRINHO NACIONAL
Olá, Veloso. Pior que é verdade. Não podemos considerar apenas quadrinhos nacionais, é muito bacana ver quadrinhos se passando em nosso território também. Abraço.
ExcluirOi. Sei que faz muito tempo do seu comentário, mas, qual é o nome dessa história em que Jonah Hex vem para o Brasil?
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