Luxúria | Uma simples história de amor (com uma boa dose de sacanagem!)

Dylan Ivory é uma escritora de romances eróticos, mas que não acredita muito no amor. Para seu próximo livro, que envolverá o mundo do sadismo e do sadomasoquismo, resolve entrevistar pessoas que se envolvem/envolveram em tal meio. Assim conhece Alec Walker, conhecido como dominante sexual e dele receberá uma proposta que a levará a refletir sobre sua vida e o modo como a leva. Ao mesmo tempo em que também impactará a vida de seu novo ‘parceiro’.

Eis um breve resumo de LUXÚRIA, um livro erótico sobre uma escritora de romances da mesma linha, de Eve Berlin. Entenda-se por ‘erótico’ algo que envolverá cenas de sexo e sadismo, afinal o foco é o sadomasoquismo.

A presente a Observação também citará outras obras que tratam do mesmo tema, e você ainda vai descobrir que as safadezas na literatura datam já de muito tempo.

O MUNDO ONDE TUDO É BELO

Luxúria, segundo o dicionário Michaelis, significa: “corrupção de costumes, lascívia, sensualidade”. Já o Aulete é ainda mais ousado: “Desregramento, excesso sexual; lascívia”.

Detalhe da diagramação do livro

Tem a ver, portanto, com o prazer sexual e erótico e, assim, um título muito bem escolhido para uma obra que nos apresentará o universo do sadismo e do sadomasoquismo. Um termo também que nos remete – ainda que as palavras tenham significado bem diferentes – a um outro com bastante alusão nesta história: o luxo.

“Dylan Ivory soube que era ele no exato momento em que viu a corpulenta figura irromper no estacionamento em frente ao Museu de Arte Asiática em uma clássica Ducati, a motocicleta impecável, preta e cromada”.

“Ao entrar, Alec indicou uma das pequenas mesas sob o teto abobado. Lá fora, havia estátuas: Buda, Vishnu, Kali. Dylan jurava que podia sentir o cheiro das pedras ancestrais além do aroma do café e do chá, disperso no ambiente. Luzes difusas atravessavam os vidros foscos das janelas do átrio, acentuadas pelas arandelas de âmbar com seu sutil brilho dourado. Era um lugar tranquilo, onde Dylan ia com frequência para tomar uma xícara de chá, mas hoje ela estava uma pilha de nervos”.

Interessante observar que o começo do livro diz bastante sobre ele. Os dois trechos acima foram retirados do primeiro capítulo e representam bem as referências ao universo do luxo. Já a luxúria estará visivelmente em muitas outras páginas, bem nítidas e abertas a todos os curiosos que resolverem seguir em frente com o livro.

A história a seguir atentará basicamente aos dois personagens, a partir do momento em que Alec propõe a Dylan que ela aceite ser submetida por ele no sadismo.

LITERATURA ERÓTICA

O fenômeno Cinquenta Tons de Cinza, lançado em 2011 (e rapidamente alçado ao sucesso comercial), chamou bastante a atenção do público em geral – e também das editoras nacionais e estrangeiras – para a literatura erótica. O fato é que ela é mais antiga do que se imagina, com autores consagrados para a área, como o clássico Marquês de Sade (Donatien Alphonse François de Sade | 1740-1814) e a contemporânea Anaïs Nin (1903-1977).

É fato que o erotismo e o sexo estão associados à sociedade e a cultura humana desde o início dos tempos, e a literatura não poderia ficar fora desta. Entretanto, foi e é muitas vezes considerada como reprovável e pecaminosa, havendo muito preconceito contra os leitores e autores dos livros eróticos.

Entre obras notáveis deste segmento é possível destacar:
- Teresa Filosófica (século XVIII), de autor desconhecido.
- Os 120 Dias de Sodoma (1785) e Justine (1791), ambos do Marquês de Sade.
- Henry & June (1980), Incesto (1966) e Pequenos Pássaros (1980), de Anaïs Nin.
- Kama Sutra (data indefinida, estipula-se entre 400a.C. e 200d.C.) de Vatsyayana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Luxúria pode ser considerado um bom livro se considerarmos que seu principal intento é cumprido: ele excita! Isso é fato! Mas também é possível afirmar que é um livro simples demais.

A autora preocupa-se tanto em trabalhar o ato sexual entre Dylan e Alec que esquece de criar uma trama mais complexa. Os demais personagens (Mischa e Dante) são meros coadjuvantes, mas daqueles coadjuvantes que não oferecem nada para o livro andar. Eve Berlin preocupa-se em mostrá-los como meros conselheiros de obviedades, afinal o leitor mesmo já havia formulado as mesmas questões e argumentos deles.

Outro ponto é a linguagem simplória. Eve não se preocupa em inovar a arte, contenta-se com frases de efeito, conversas mecânicas e abuso do mundo do luxo e da beleza (os dois protagonistas são lindos e maravilhosos). E, o mais importante, deixa a desejar, afinal pela frase da capa (“Quando achava que era hora de parar... então pediu por mais”) era de se esperar um aprofundamento bem maior do sadomasoquismo. O que não ocorre.

Ainda sim, repito, é um bom livro para quem procura uma obra erótica. Leve, romântico, ‘safado’ e rápido. Por ser uma história aparentemente fechada – com começo, meio e fim – fica a curiosidade sobre como será o volume 2 (em menção ao 'Volume 1' presente na lombada da publicação atual).

Confira o book trailer de Luxúria:

LUXÚRIA
Título original: Pleasure’s Edge
Autora: Eve Berlin
Editora: Lua de Papel
Páginas: 252
Ano de lançamento: 2012