SPAWN foi criado em uma época especial para o mercado estadunidense de histórias em quadrinhos. Todd McFarlane era até então um artista com pouco mais de 30 anos em amplo crescimento na carreira após sua brilhante fase na saga de um tal Cabeça de Teia quando decidiu, junto a um grupo de amigos, fundar a própria editora, naquele que seria considerado pela Wizard Magazine o maior evento do segmento nos Estados Unidos entre 1991 e 2008. Nascia assim a Image Comics!
De todas as revistas lançadas pela editora, a do personagem foi decididamente a de maior sucesso nos anos 1990, mantendo-se por anos entre os gibis mais vendidos no país, mesmo fora do eixo das poderosas Marvel e DC. No Brasil, o caso não foi diferente, como vamos ver.
O que fez de Spawn tão peculiar? Sua história, enredo, busca às respostas religiosas? É isso que vamos tentar descobrir nesta Observação.
INÍCIO
Arte de Greg Capullo. Belos desenhos sempre fizeram parte das revistas da personagem |
Como todo agente desse ramo, chega uma hora em que você se torna o alvo por saber demais. E um dia durante uma missão, foi morto por seu chefe Jason Wynn. É aqui que Simmons vira Spawn ou Simmons deixa de existir para nascer Spawn.
Ao falecer, por tudo que fez em vida, foi parar no inferno. Mas, em troca de seu retorno à Terra para ficar com a família, Al faz um acordo com o demônio Malebolgia. Para tanto, deveria liderar seus soldados quando chegasse a hora do Armagedon.
Perceba aqui que há certa semelhança entre o anti-herói e a saga dos irmãos Winchester, Supernatural, com a eterna briga de anjos versus demônios.
A volta de Simmons, ao contrário do que gostaria, se dá quatro anos após sua morte. Sua esposa seguiu em frente e casou com o melhor amigo do ex-marido. Já Al não voltou como humano, e sim sob uma forma apavorante, um ser com poderes demoníacos: superforça, invulnerabilidade, voo, teletransporte e com corpo deformado parecendo uma carcaça de carne em putrefação com necroplasma no lugar de sangue. Assim como os Winchester, ele teve seu destino escrito por outros, mas caberá a ele reescrever agora seu destino.
MISSÃO
A Bíblia do Spawn, importante guia da saga |
Segundo as escrituras sagradas (ou A Bíblia do Spawn, material lançado fazendo alusão a saga durante seu sucesso), no juízo final, as forças do bem e do mal se enfrentarão. A missão do demônio Malebolgia é recrutar soldados para a causa das trevas. Para isso ele cria os Hellspawns (espectros do inferno, literalmente). São almas condenadas como as de Al que fazem trato com o demo e assim voltam para a terra para aprimorar seus poderes.
Não diferente de alguns super-heróis, Spawn luta pela sua sobrevivência acima de tudo. Ele tem a ajuda de um amigo: Cagliostro, um velho sempre envolto de mistério, que, apesar de ser aparentemente um moribundo, guarda muito conhecimento.
Com o passar das edições, descobriremos que Cagliostro é na realidade Caim, filho de Adão, assassino de seu irmão Abel. Por ter sido o primeiro assassino da história, tornou-se o primeiro Spawn, que ainda resiste graças a uma ínfima dose de necroplasma que ainda lhe resta. E foi com a ajuda deste 'Spawn aposentado' que Al Simmons aprendeu a controlar seus poderes.
VENDO ALÉM DO DESENHO
Capa do filme de 1997 que, apesar dos belos efeitos especiais, não contava com bom roteiro |
De certa maneira, a revista não foi a primeira e nem será a última a explorar esse lado, mas o fato como foi feita chama a atenção, provavelmente por ser uma HQ mais atual e sem precisar atravessar os problemas de censuras de décadas anteriores. Por isso obteve tanto sucesso quando lançado, trouxe uma nova visão ao mundo das histórias em quadrinhos, ainda sob a batuta dos super-heróis da Marvel e da DC Comics, que, aliás, vieram a sofrer influência de Spawn nos anos porvir.
A simbologia do demônio e do anjo é algo que pode ter servido de inspiração à série Sobrenatural (Supernatural), ainda mais olhando o enredo em que há uma disputa de poder entre anjos e demônios, com os irmãos Winchester no meio do caminho: Sam seria uma espécie de Spawn, um receptor de Lucifer, enquanto Dean, o receptor de Miguel.
Quem gosta de literatura também se deliciará com Spawn, que tem traços da principal obra de Dante Alighieri, Divina Comédia. A mesma distribuição de personagens, entre Céu, Terra e Inferno, também é evidente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Capa da última edição lançada no Brasil pela HQM Editora |
Os motivos da queda vão da falta de criatividade de alguns roteiristas que passaram pela saga a imbróglios judiciais por questões aquém da HQ que tiraram o foco de McFarlane da revista.
Além disso, fatores que garantiram o sucesso das primeiras edições (participação de artistas famosos escrevendo alguns números ou minisséries, casos de Alan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman e Dave Sim) tornaram-se dor de cabeça, primeiro quando Sim proibiu a reimpressão da edição com sua participação e culminou com o processo movido por Gaiman, que proibiu até mesmo a presença de uma importante personagem na saga, a matadora de Spawns, Angela (que recentemente foi levada pelo criador de Sandman para a Marvel).
Mas, como prova de que pode renascer várias vezes, Spawn atualmente tem mantido uma razoável sequência de boas histórias, com McFarlane novamente nos textos. E é interessante observar como ele pode ser uma forma de exteriorizar nossos medos, ou não, podendo ser apenas uma ideia bem feita, com base na história bíblica. Ainda sim é uma boa leitura.
História em quadrinhos observada por João Paulo Andrade.
Excelente observações, João Paulo. Gostei muito. Apesar de adorar quadrinhos nunca fui interessado em Spawn, mas agora vou atrás de dar uma lida em algumas histórias.
ResponderExcluirVocê irá gostar, principalmente das mini-séries.
ExcluirConcordo com a observação do meu amigo Ddi e acrescento que foi ótimo relembrar dessa série extraordinária. Vida longa e Próspera.
ResponderExcluirDdii) e condestrahd, obrigado pelos comentários! Spawn vale a pena sim, leia as primeiras edições e vai entender o porquê. Particularmente, gosto da minissérie da Angela! Abraços...e João, parabéns pela repercussão!
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