Crônicas de Métal Hurlant | Desenhos não erguem prédios, mas movem cometas

Um poderoso meteoro, um metal pesado, navega pelos céus. Viajando a uma velocidade exorbitante, talvez rápido até demais. Permitindo-se apenas conhecer apenas vislumbres de histórias. Histórias curtas, objetivas e dolorosas. Eis a sinopse da série franco-belga CRÔNICAS DE MÉTAL HURLANT, que adapta algumas das histórias da famosa revista francesa Métal Hurlant.

Mas não falaremos de toda a série e sim de um capítulo em especial, afinal o meteoro é a única ligação entre os episódios.

Uma breve história chamada FATOS DUROS E FRIOS, de apenas dez minutos, pois divide o terceiro episódio da temporada com outro (Luz Vermelha).

Dez minutos, entretanto, é o que basta para uma história ficar marcada, mesmo que de forma passageira como um meteoro que habita o universo solitariamente. Aliás, uma história sobre a história de alguém, ou talvez não, já que traça um paralelo com uma possível história do que teria acontecido a ele.

Curioso? Espero que sim. Agora siga conosco nesta Observação!

RESUMINDO A HISTÓRIA PARA QUEM NÃO VIU

“No ano 2312, ninguém sabe ao certo quão grande Los Angeles se tornou. Com a população mundial atingindo 37 bilhões, todas as cidades se fundiram em uma única teia de aço e concreto”.

Explorando ruínas desta estranha cidade, arqueólogos encontram um antigo laboratório de criogenia. Todos os recipientes estavam quebrados, exceto um.

CIÊNCIA X LIBERDADE

O ponto alto do episódio está no diálogo que virá a seguir, entre o chefe da polícia de patrimônio, Trez Tarpoon, e aquele que parece ser seu superior, o Sr. Molan Droog.

Trez Tarpoon e Molan Droog
Droog culpa a medicina moderna pelo colapso social (“Permite viver e procriar por eras”). Todos foram curados, não há mais doentes. O mundo está salvo. Mas não nosso ‘homem de gelo’.

“Alguma coisa comprometeu sua memória”, afirma Tarpoon, que completa dizendo que isso o impede de lembrar seu próprio nome. E se não tem nada a acrescentar a sociedade, ele não tem valor para ela.

O que temos em seguida é uma bela trilha sonora instrumental. Duas narrativas se mesclam, uma, a imagética, nos revela o qual o destino do ex-criogenizado. A outra, a oral, nos dá, através do diálogo de Droog e Tarpoon, os pormenores deste destino e uma dica importante sobre o ser descongelado.

Uma cena simples, mas bela e tocante.

“- Igualmente útil, suponho. Suspeito de danos cerebrais, de qualquer forma. Desde que o revivemos, não faz nada além de desenhos estúpidos” – diz Tarpoon.

- Desenhos... Mais uma razão Trez. Desenhos não levantam prédios, plantam vegetais ou fazem bio-nanomáquinas. Não têm uso algum. Fazemos um serviço público ao eliminar esse inútil. O mundo será um lugar melhor sem ele – complementa Droog”.


INDO ATÉ LÁ E VOLTANDO

Cold Had Facts foi escrito e ilustrado originalmente por R. A. Jones e Matt Cossin, respectivamente, para a edição #141 da publicação francesa Métal Hurlant. Importante mencionar que esta é uma das tantas pérolas que rechearam esta revista ao longo dos anos.

Mesmo sendo curta, é impressionante como nos prende até o final. Segundo a visão dos criadores, teríamos virado uma espécie de formiga, onde apenas o trabalho relevante (e relevante para o Estado) é o que vale. E se você não faz parte do jogo pode ser eliminado.

Nem sonhos são permitidos. Porque sonhos criam possibilidades. E possibilidades criam esperanças de melhora.

É como a tradução direta do título nos mostra: Fatos Duros e Frios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Walt Disney
Mas é preciso dizer que ela tem um sabor especial para quem tem conhecimento maior sobre a pessoa em questão. Falamos um pouco sobre isso em um especial sobre ele (e se quiser mais a fundo, basta clicar aqui!), entretanto, vamos retomar neste texto.

Walter Elias Disney morreu de câncer no pulmão. Segundo um de seus biógrafos, ele “havia fumado durante anos, desde seus dias na Cruz Vermelha, um cigarro atrás após o outro, um fumante nervoso, os dedos manchados de nicotina, a voz rouca e grossa, toda conversa era frequentemente pontuada por seu pigarro”. Vale lembrar que estes cigarros não possuíam filtro como os atuais.

Apesar disso, existe um mito de que ele teria sido criogienizado. Tal história teria surgido por dois motivos, em especial:

- Walt ter aguardado até o último minuto para avisar as pessoas mais próximas sobre a doença;

- E a proximidade da morte do produtor (15 de novembro de 1966) com o primeiro caso de suspensão por criogenia (o Dr. James Bedford, em 12 de janeiro de 1967).

Dr. James Bedford
Os autores da presente história se utilizaram, portanto, de um interessante mito dentro da historia de Walt, mas que dependem do conhecimento de seu publico para torná-la ainda mais brilhante.

Obs.: a série inteira é recomendada. Os episódios são muito bem produzidos, atores conhecidos e com visões futurísticas que podem gerar interessantes reflexões. E levando em consideração esta primeira temporada (e o material que ainda pode ser adaptado) podem render ainda mais pérolas como esta.

CRÔNICAS DE METAL HURLANT | FATOS DUROS E FRIOS
Título original: Métal Hurlant Chronicles | Cold Hard Facts
Roteiro: Anne Jammet
Direção: Guillaume Lubrand
Elenco: Guy Anram (Trez Tarpoon), Jean-Yves Bertloot (Molan Droog) e Patrice Delmont (Walt Disney)

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