Doctor Who | O que há de mais cruel no fim do mundo

Promo de Doctor Who
Muitas foram as obras de ficção-científica que abordaram este momento ímpar para humanidade. O dia em que é decretado o fim do planeta Terra. DOCTOR WHO, série que trabalha com a temática de viagem do tempo, não poderia ter deixado este acontecimento de lado. Logo, este foi o foco do segundo episódio da primeira temporada (da nova fase): The End of the World (ou O Fim do Mundo, em português).

Para quem não conhece, esta longeva série inglesa produzida pela BBC apresenta as aventuras de um Lorde do Tempo, um alienígena chamado apenas de Doutor. Doutor quem? Bom, essa é a brincadeira que o título original faz.

Conheça mais sobre a história deste personagem e desta série neste guia da história elaborado como complemento a esta Observação.

Fique agora com a análise da visão do fim do mundo segundo Doctor Who.

O EPISÓDIO
Doutor e Rose, personagens da série Doctor Who
Christopher Ecclestone, o nono doutor (e primeiro da
segunda fase do programa) e sua companheira Rose Tyler,
vivida pela atriz Billie Piper

“Muito bem, Rose Tyler, diga-me para onde quer ir, futuro ou passado?”

É com esta pergunta para sua nova acompanhante nas aventuras a bordo do TARDIS – uma espécie de máquina do tempo que deveria assumir várias formas, mas que teve seu Circuito Camaleão danificado, travando-a no formato de uma cabine telefônica dos anos 1950 –, que tem início mais um episódio de Doctor Who.

“Você passa a vida toda pensando em morrer. Como se fosse ser morto por ovos ou carne ou aquecimento global ou asteroides. Mas você nunca imagina o impossível. Que talvez você sobreviva. Esse é o ano cinco ponto cinco, barra maçã vinte e seis. Cinco bilhões de anos no futuro. E esse é o dia...espere. Esse é o dia que o sol expande. Bem-vinda ao fim do mundo”.

Na série, entretanto, o fim do mundo vira um espetáculo para poucos. Não há mais ninguém morando no planeta. O Sol é controlado para evitar que destrua rapidamente o que sobrou e um grupo de pessoas assisti com exclusividade ao acontecimento. Para resumir, o fim do mundo é tido apenas como ‘um evento artístico’.

JÁ VI ESTA HISTÓRIA ANTES...

Capa do livro O restaurante no fim do universo, de Douglas AdamsNão por acaso, o roteiro deste episódio foi baseado livremente no livro O Restaurante no Fim do Universo, o segundo da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams.

O escritor, no fim dos anos 1970, trabalhou como editor de roteiros de Doctor Who, tendo inclusive elaborado três episódios para a fase do quarto Doutor, Tom Baker, mas somente dois foram filmados (episódio aqui comentado é com o nono Doutor).

No livro, continuando as aventuras iniciadas no primeiro, o humano Arthur Dent acaba indo parar na nave Coração de Ouro, movida por um gerador de improbabilidade infinita. Lá está instalado um restaurante que continuamente exibe para seus visitantes a beleza do fim do universo.

VOLTANDO AO DOUTOR, AGORA COM CRÍTICAS A SOCIEDADE

Rose fica abismada com todos os seres – novos para ela – chegando para o tal ‘evento’, enquanto o Doutor a observa com sorriso zombeteiro.

O principal destaque entre os visitantes é o denominado Último Ser Humano: Cassandra O’Brien Ponto Delta Dezessete. A personagem muito provavelmente faz parte de uma crítica a sociedade baseada na estética dos dias atuais. Acompanhe a passagem:

“Não fiquem olhando! Eu sei, eu sei que é chocante, não é? Eu mandei tirar meu queixo completamente, e vejam a diferença, vejam como estou magra! Magra e saborosa! Não pareço ter dois mil anos”.

A personagem, entretanto, nada tem de humana. Segundo ela, fez milhares de cirurgias (“setecentas e oito”, segundo ela) em busca da perfeição. Anos e anos neste processo, até que acabou apenas com sua pele esticada, onde vemos apenas seus olhos e sua boca. Precisa ser constantemente hidratada por seus servos e mantém seu cérebro em conserva na máquina a qual está ligada.

Cassandra O'Brien, personagem da série Doctor Who
Cassandra O'Brien Ponto Delta Dezessete em carne e osso,
ou melhor, só carne!
A história de sua origem também não bate com a realidade, mesmo que muitos anos a frente da que vivemos.

“Meu pai era texano, minha mãe era da Antártica. Eles nasceram na Terra, e foram os últimos a serem enterrados lá”. Além disso, trás um aparelho que “segundo os arquivos, isso se chamava iPod e armazenava músicas clássicas dos melhores compositores da humanidade”, mas que na verdade é Jukebox e o que toca é Tainted Love, na voz de Marilyn Manson, música reproduzida já nos anos dos CDs. Nada pessoal contra o músico, acredito eu – possivelmente, assim como também os produtores – que apenas ele não se enquadra na categoria ‘melhores compositores da humanidade’ da maior parte das pessoas. Além do que, a música nem é dele – foi escrita em 1964 por Ed Cobb e cantada pela primeira vez por Gloria Jones. A próxima música a tocar é Toxic, da Britney Spears, de 2003. Mais um ‘clássico’!

Indo adiante, temos o choque entre a que se diz Último Ser Humano e a verdadeira dona deste título, Rose. O Doutor ainda alerta sua nova parceira já temendo uma possível discussão. O debate traz novas informações quanto aos antigos moradores da Terra. Eles não foram dizimados, ou coisa assim, apenas decidiram partir pelo universo. Ao que Cassandra alega ser:

“O último ser humano puro. Os outros se misturaram. Eles se chamam de Protohumanos e Digihumanos, até Humanish. Mas sabe como os chamo? Mestiços”.

Ela ainda afirma que a parceira do Doutor poderia ser bonita, não fosse seu queixo pontudo. No decorrer do episódio, ela tentará destruir a nave, com o intuito de utilizar o dinheiro da indenização. “Você acha que é barato ter essa aparência? Isso custa uma fortuna”.

Personagem Cassandra da série Doctor Who
Cassandra ressecando. Nas palavras do Doutor: "Tudo tem
seu tempo. E tudo morre"
É importante ressaltar a criticidade do roteirista do episódio com a humanidade retrata na vilã. Em sua visão, é nítido que a humanidade – mesmo que só uma parte dela – nunca deixará de pensar apenas em si, buscando a estética perfeita e ambição acima de tudo.

O plano, entretanto, será sepultado graças a intervenção do Doutor. Sua ira diante daquele ser e de sua perversidade é tão grande que ele a deixa morrer. Com o ar quente no local a pele de Cassandra seca até estourar. “Tudo tem seu tempo. E tudo morre”, diz. E é bastante provável que muitos de nós agiríamos exatamente da mesma maneira que o bom herói.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Terra explode como estava destinado a acontecer.

“- O fim da Terra – afirma Rose Tyler, agora a sós a bordo da nave com o Doutor – Ela se foi. Estávamos tão ocupados nos salvando que ninguém viu ela partir. Todos aqueles anos, toda aquela história, e ninguém estava olhando. É uma...


Cena da série Doctor Who
O fim da Terra
Neste momento, o misterioso personagem a segura pela mão e a leva a bordo da TARDIS. Lá rumam para anos no passado, até chegarem ao período onde se encontram pela primeira vez.

- Pareceria que duraria para sempre, pessoas e carros e concreto – diz o Doutor assim que saem pela porta da cabine telefônica – Mas não durará. Um dia tudo acabará. Até mesmo o céu. Meu planeta se foi. Está morto. Queimou como a Terra, é só pedras e pó. Antes do tempo.
- O que houve? – pergunta sua acompanhante.
- Uma guerra. E perdemos.
- Uma guerra contra quem? E seu povo?
- Sou um Lorde do Tempo. Sou o último dos Lordes do Tempo. Todos já se foram. Sou o único sobrevivente. Fiquei viajando sozinho, porque não tem mais ninguém – aqui, mesmo que brevemente, o Doutor começa a contar sua história. Os próximos capítulos seguintes fazem o mesmo até o derradeiro final da temporada.
- Tem eu.
- Você viu o quanto é perigoso. Você quer ir para casa?
- Não sei. Eu quero... Está sentindo cheiro de batatinhas?
- Sim – responde o Lorde do Tempo com um sorriso – Sim.
- Eu quero batatinha.
Cena da série Doctor Who- Eu também.
- Tudo bem, antes de me colocar de volta naquela caixa, vamos comer batatinha, e você é quem paga.
- Não tenho dinheiro.
- Que tipo de encontro é este? Vamos lá, pão duro, eu pago. Só temos cinco bilhões de anos até as lojas fecharem”.

Vou ficar também com as batatinhas, enquanto aguardo o fim do mundo.

DOCTOR WHO
Nome original: Doctor Who
Produção: BBC
Episódios: 783 (até o fim da sexta temporada da segunda fase)
Ano de produção: 1963-1989 (primeira fase), 1996 (telefilme – considerado como ponte para as duas fases) e 2005-presente (segunda fase)
Criador: Sydney Newman, C. E. Webber e Donald Wilson

Observação - Guia da história

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado, Miguel! Fico feliz que tenha gostado...abraço.

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  2. Já que houve dois textos sobre os dois Doutores da Nova Série, que tal escrever sobre uma história do 11º? Fica a sugestão, um tributo ao último Doutor do primeiro ciclo.

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    Respostas
    1. Olá, Danil! Há planos para isso, era para ter sido feito já, mas infelizmente o primeiro semestre foi bastante complicado para mim. Mas aguarde que logo logo entra a análise de um episódio do 11º. Alguma sugestão? Abraços.

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    2. Puxa, você me pegou; a fase do 11º é a minha preferida da Nova Série. Mas creio que os episódios A Esposa do Doutor e Complexo de Deus são excelentes para uma análise, alguns dos melhores da safra, penso eu.

      Aproveitando: posteriormente poderia ser feito a análise de histórias dos Doutores da Série Clássica, pra mim, a melhor fase de Dr. Who.

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    3. Sugestões anotadas, parceiro! Vou conversar com minha equipe sobre nosso cronograma e vermos o melhor momento para encaixarmos as análises solicitadas! Abraços e obrigado!

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