Feitiço do tempo | O mesmo dia todos os dias


Capa do filme Feitiço do tempo
Time loop – ciclo ou laço no tempo, em português – é classificado como uma situação ficcional em que o tempo corre normalmente durante um determinado período, mas em certo ponto volta a um determinado ponto, repetindo o exato período em questão.

O filme FEITIÇO DO TEMPO trabalha justamente sobre esta questão. Phil Connors (vivido por Bill Murray), um egocêntrico homem do tempo da TV, encontra-se em Punxsutawney, nos Estados Unidos, para a abertura do anual Dia da Marmota (comemorado no dia 2 de fevereiro nos EUA e no Canadá). Entretanto, sem motivo aparente, este dia irá acontecer repetidamente em sua vida.

A Observação a seguir estudará um pouco mais este dispositivo bastante comum na ficção científica.

OBSERVANDO O FILME

O início e o fim deste dispositivo em Feitiço do Tempo não ficam bem claros. Ele tem início após um dia ruim na vida de Phil (ir a Punxsutawney cobrir um evento que não suportava e ficar preso na cidade ao final do dia por conta da chegada de uma nevasca que ele, como meteorologista, não previu).

Aparentemente, não há nada de extraordinário aconteceu em sua vida para que aquilo acontecesse. Também não existem fatores externos, como feitiços – como o título do filme sugere –, explosões, picadas de animais radioativos e não há nenhum computador por trás. O único fato que sugere algo é a tal previsão feita pela marmota, que prevê o atraso na chegada da primavera em seis semanas.

Cena do filme Feitiço do tempoDe fato, o que temos é a repetição daquele dia de inverno, mas não é fácil conectar isto ao acontecimento na vida de Phil. Até porque não há uma contagem exata de em quantos dias aquilo se sucedeu. Segundo enumeração feita por este pesquisador foram 35 (embora se possa especular um número bem maior levando em conta suas falas e ações).

O APRENDIZADO

Observe abaixo o diálogo entre Phil e Rita, produtora do mesmo jornal que ele e que o acompanha na viagem de cobertura do Dia da Marmota.

- Estou surpresa, e isso não acontece fácil – afirma Rita, enquanto caminham por uma praça.
- Sobre o quê? – questiona Phil.
- Como este dia começou de um jeito e terminou de forma tão diferente.
- Gosta de como o dia terminou?
- Gosto muito. Foi um dia perfeito. Não podia planejar um dia assim.
- Pode sim. Mas dá muito trabalho.

Nota-se que, em determinado momento do filme, Phil começa a brincar com seu time loop, testando formas de se aproximar de Rita. Aqui, por exemplo, ele é saudado por finalmente conquistar seu objetivo, embora fracasse minutos depois.

Cena do filme Feitiço do tempoEle é único ciente daquela constante. Embora não controle a ferramenta, o protagonista brinca em diversos momentos com sua vida, alterando-a para conquistar seus objetivos ou querendo arruiná-la. Suas emoções seguem o mesmo rumo com o passar dos dias:

“Não vou mais seguir as regras de ninguém” (segundo dia).
“Passei muito tempo aqui” (nono dia).
“Eu cheguei ao fundo do poço. Não existe mais saída” (vigésimo quinto dia).
“Já disse. Acordo todos os dias bem aqui. Aqui em Punxsutawney. Sempre no dia 2 de fevereiro. E não há nada que eu possa fazer a respeito” (vigésimo nono dia).
“Sabe que dia é hoje? Hoje é amanhã. Você está aqui (...). Foi o fim de um dia muito longo” (primeiro dia após se libertar do time loop).

LIDANDO COM CONCEITOS E EXEMPLIFICANDO

Time loop é comumente associado com viagens no tempo, justamente por ambos serem bastante ligados às ficções-científicas. Tendo em mente que viagem no tempo entende-se como o conceito de mover-se para trás e para frente através de pontos diferentes no tempo é possível afirmar que sim, o time loop pode ser usado dentro de uma.

Doctor Who
Um exemplo de como isso ocorre é o episódio Father’s Day, de Doctor Who. Nele, o Doutor e Rose Tyler – os protagonistas da série – ficam presos no dia da morte do pai dela, repetindo-o.

A ferramenta já foi utilizada em outras séries de ficção-científica, tais como Andromeda, Angel, Arquivo X, Buffy – a Caça-Vampiros, Fringe, Jovens Bruxas, Lois e Clark: As Novas Aventuras do Superman, Lost, Os Feitiçeiros de Waverly Place, O Vidente, Smallville, Stargate SG-1, Star Trek: Enterprise, Star Trek: A Nova Geração, Star Trek: Voyager, Supernatural e Xena: A Princesa Guerreira.

Capa do filme Corra, Lola, corraEm desenhos também podemos encontrar exemplos: D.Gray-Man, Futurama, Liga da Justiça Sem Limites, Phineas e Ferb, Sakura Card Captors, South Park e Três Espiãs Demais.

Entre os filmes, além do exemplo usado para este texto, temos:

Capa do filme O último dia de verão- Corra, Lola, Corra (1998) – dirigido por Tom Tyker, o filme apresenta três finais possíveis para os personagens centrais.
- O Último Dia de Verão (2007) – produção da Nickelodeon, a obra conta a história de um grupo de crianças que tamanho foi o desejo de repetir o último dia do verão que ele acaba se realizando.
Capa da animação Pokémon: Giratina e o Cavaleiro do Céu- Pokémon: Giratina e o Cavaleiro do Céu (2008) – neste filme do universo de Pokémon, Dialga, um dos pequenos seres da série, prende Giratina, outro ser, em um time loop para poder deixar o Mundo Reverso.

E por aí segue. Até mesmo a literatura não está livre de tal fato, como comprovado na saga A Torre Negra, de Stephen King, que utiliza de muitos elementos de viagem no tempo, incluindo um time loop.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Feitiço do Tempo é claramente um time loop o filme inteiro e busca desta maneira exibir a importância na mudança de hábito de Phil. A saída deste dispositivo é inteiramente ligada ao sucesso que ele tem com Rita. Só quando finalmente conquistá-la o (verdadeiro) dia seguinte acontece.

E quando a você, se pudesse escolher um dia para repetir finita/infinitamente, qual seria? Ou melhor, teria algum interesse em repetir finita/infinitamente algum dia de sua vida?

Pergunta interessante e reflexiva.

Confira o trailer do filme:

FEITIÇO DO TEMPO
Título original: Groundhog Day
Estúdio: Columbia Pictures
País de origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 1993
Elenco: Bill Murray (Phil Connors), Andie MacDowell (Rita), Stephen Tobolowsky (Ned Ryerson) e Chris Elliott (Larry).
Roteiro: Danny Rubin e Harold Ramis
Direção: Harold Ramis

10 comentários:

  1. Como eu já comentei lá no face...esse filme é um dos meus favoritos, muito bem bolado e com um dos melhores comediantes americanos, grande Bill Murray. Um filme pra ser assistido em loop, sem cansar.
    Quanto ao seu questionamento...não sei se iria querer um dia em loop, no qual só eu observasse a repetição dos fatos, mas talvez um dia que durasse mais tempo, que só acabasse quando eu realmente estivesse cansada dele...

    Parabéns pelo blog...estou lendo posts antigos e adorando!

    Beijão!

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    1. Olá, Bruninha. Muito bom vê-la aqui. Honestamente, não gostaria de estar em um time loop. Uma vez só o dia já está bom demais para mim....rs.

      Fico feliz que esteja gostando dos textos. Sua visita e seus comentários serão sempre bem vindos.

      Beijos.

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  2. Já te adicionei no dihitt e te sigo, bem vindo!!

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  3. Se não estou enganada em certo momento o personagem diz que há seis meses aquilo lhe acontecia (viver o mesmo dia). E isso foi antes de começar a estudar piano. Considerando que ele iniciou os estudos sem saber nada (e não era um gênio), até ''mandar bem'' no piano, deve ter levado um bom tempo, logo creio que Phil passou mais de um ano preso no tempo.


    Se eu gostaria de repetir algum dia por um tempo ou para sempre? Esse ''dia perfeito'' em minha vida que não me importaria se o tempo parasse ainda não aconteceu.
    Mas até gostaria de ficar em suspenso na linha do tempo, se soubesse como fazer para voltar ao ''mundo real'' e continuar com a sensação de tempo linear que temos.

    :)

    V.

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    1. Olá, V! Faz um tempinho que revi este filme para escrever esta observação, por isso não me recordo da passagem em que ele mencionaria os seis meses. Os 35 dias que cito são os que são mostrados ao longo do filme, mas foi uma contagem pessoal. Acredito que ele foi muito além disso também.

      Acho que um dia não especial pode se tornar especial caso mudássemos algumas coisas que aconteceram nele, como o que aconteceu com o protagonista do filme. Ele soube se adaptar para transformar aquele em um dia especial, e possivelmente foi o que o tirou do time loop.

      Abraços e obrigado pela comentário!

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  4. O conceito é ótimo, mas a elaboração nesse filme é muito ruim. Depois de ver outras estórias melhor executadas acabei gostando ainda menos de Feitiço do Tempo, fazendo que, pra mim, ele só preste por ter popularizado o tema.

    Dos que já vi até agora, os de Dr. Who e Sobrenatural são os melhores, os que merecem ser conferidos. O primeiro por ter um roteiro tão bom e sutil quanto a abordagem do tema batido, que nem percebi ser e o segundo por trazer uma grande lição no final, arrebatadora.

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    Respostas
    1. Entendo, mas discordo de sua opinião, Danil. Acho a elaboração de Feitiço de Tempo muito bem executada, tendo Bill Murray em um dos melhores papéis de sua carreira.

      Acho interessante que o filme dá brechas para várias teorias, que fui conhecer após escrever este texto, como a questão dos dias em que ele fica preso no time loop e a total falta de explicação para este acontecimento. Acho que se tivéssemos ambas as respostas, a obra perderia o glamour. Vale o mesmo para Walking Dead (mesmo que eu não goste da HQ ou da série) e seus mortos-vivos.

      Quero entender melhor porque acha a elaboração ruim. E não vi o episódio que menciona de Sobrenatural (não sou grande fã da série, o texto aqui do blog foi feito pelo João Paulo).

      Abraços.

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    2. Eu me referi ao roteiro, pela total falta de explicação, como você bem disse, e ser conduzido por um fio romântico. O protagonista parece agir tão tolamente e conseguir sair desse ciclo só por ter ficado com uma mulher? Foi a gota d'água.

      Resumindo, personagem interpretado pelo Bill ruim e romance, quando poderia fazer algum sentido se fosse outro gênero, como fantasia/terror ou ficção científica.

      Também não sou grande fã de Sobrenatural, mas há bons episódios na série, como o que citei, que é o 11º da 3ª temporada. Entendo o teu ponto de vista, mas também discordo dele. Digo, concordo que deixar um assunto em aberto pode deixar o espectador livre para pensar sobre, mas creio que não funcione nessa estória.

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    3. Mas, justamente, Danil, é a falta de explicação o ponto alto. Considero o fato de ser um romance e não uma ficção-científica (embora seja também) o diferencial do filme, visto que se fosse uma ficção-científica séria perderia o brilho do filme.

      O fato dele ter saído do ciclo por ter ficado com a moça pode parecer piegas? Mas como não saberemos como ele entrou não precisamos de uma resposta clara de como saiu.

      O Omelete fez um vídeo recentemente sobre o filme (https://www.youtube.com/watch?v=yZUgrUL1maw) e traz várias curiosidades bem legais. Além disso, o filme é super cultuado no mundo todo. O que não te obriga a gostar, claro, mas vale a pena tentar entender o porquê dessa percepção sobre a obra.

      Outro filme do Bill Murray que acho que leva ao mesmo pensamento é Encontros e Desencontros.

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