
CASSIOPÉIA (NDR, 1996) é uma animação brasileira que conta a história do planeta Atenéia, localizado na constelação de Cassiopéia, que um dia é atacado por invasores do espaço que começam a sugar sua energia vital. Um sinal de socorro é enviado para o espaço sideral pela astrônoma local, Liza, e recebido por quatro heróis que viajam através da galáxia para salvar o planeta.
Esta animação, hoje pouco conhecida até mesmo dos espectadores brasileiros, é por muitos apontada como a real detentora do título de primeiro longa em computação gráfica. Isto ocorre porque, embora cinco meses o separem de Toy Story, Cassiopéia não se utiliza de modelos físicos, da modelagem às texturas.
Mas vamos em partes! Esta Observação seguirá primeiramente com uma breve história da animação e em seguida exporemos a posição de cada uma das partes para chegarmos a uma consideração final.
A INOVAÇÃO DA ANIMAÇÃO
Em 28 de outubro de 1892 foi apresentado no Musée Grévin, em Paris, França, Pantominus Lumineuses, tido como o primeiro desenho animado da história. O feito, produzido pelo francês Émile Reynaud, foi realizado utilizando um praxinoscópio, inventado pelo próprio.
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Retrato de Émile Reynaud |
O aparelho era um aperfeiçoamento do zootropo (um tambor circular com uns cortes, através dos quais o espectador olha para que os desenhos dispostos em tiras sobre o tambor, ao girar, pareçam em movimento) e, diferente deste, utiliza um sistema complexo de espelhos que permite efeitos de relevo. A multiplicação das figuras desenhadas e a adaptação de uma lanterna de projeção possibilitam a realização de truques que dão a ilusão de movimento.
Seu local para exibição, que Reynoud batizou de Teatro Ótico, animava na frequência de 15 quadros por segundo, e com duração média de 15 minutos. No início do ano de 1900, alcançou público superior a 500.000 espectadores.
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Fantasmagorie uniu animação com ação ao vivo |
Em seguida, coube a outra animação francesa (lembre-se que os inventores do cinema moderno também se originaram deste país, os irmãos Auguste e Louis Lumière) ser o primeiro exibido em projetor de filmes moderno, em 1908: Fantasmagorie (de Émile Cohl).
Com os passar dos anos, a população acompanhou a evolução da animação. Da mesma forma que o Brasil também começou a se desenvolver nesta área, embora timidamente. Veja uma curta cronologia deste gênero:
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Cena de O Kaiser |
1917 – O Kaiser (de Álvaro ‘Seth’ Marins), primeiro filme de animação brasileiro (não era um longa-metragem).
1926 – As Aventuras do Príncipe Achmed (da alemã Lotte Reiniger e do franco-húngaro Berthold Bartosch), segundo longa-metragem animado.
1937 – Branca de Neve e os Sete Anões (da Walt Disney), primeiro longa-metragem totalmente em cores e primeiro longa-metragem do famoso estúdio.
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Apesar do cartaz em cores, Sinfonia Amazônica é totalmente em P&B |

1990 – Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus (da Walt Disney), primeiro longa-metragem animado onde os desenhos foram escaneados para o computador e pintados digitalmente e, posteriormente, combinados com imagens de fundo.
1995 – Toy Story (da Disney/Pixar), primeiro longa-metragem totalmente produzido por computação gráfica e primeiro longa-metragem do estúdio.
E vamos parar por aqui, porque é neste ponto que Cassiopéia levanta polêmica. Afinal, qual teria sido o primeiro longa animado produzido por computação gráfica?
O PRIMOGÊNITO


Cassiopéia começou a ser produzido em janeiro de 1992 com a modelagem dos ambientes e dos personagens, e o desenvolvimento do roteiro. Os personagens e cenas foram concebidos a partir de figuras geométricas básicas, como esferas, cubos e cilindros, o que facilitaria o processo de renderização (com o qual se pode obter o produto final de um processamento digital qualquer).
Já o filme da Pixar iniciou sua animação um ano antes, utilizando moldes dos personagens principais personagens feitos em argila, posteriormente digitalizados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se levarmos em consideração as datas, e concluir que trabalhar os moldes dos personagens em argila para depois animá-los no computador já é computação gráfica, sim, Toy Story foi o primeiro. Afinal, chegou aos cinemas em 1995.
Mas se para tal tem que ser totalmente em computação gráfica tem que ser feito totalmente em computador, sim, Cassiopéia ganha. E muito provavelmente, este segundo ponto seja o mais correto. Mas a pergunta que fica é: o que cada um tem a ganhar? Entrar na história?
O investimento (que inclui número de animadores, roteiristas e produtores de qualidade envolvidos) acaba muitas vezes intrinsicamente ligado à qualidade do produto final.

Toy Story recebe até hoje investimentos da Disney, incluindo sua transposição para o cinema 3D, enquanto Cassiopéia teve DVD lançado pela Cultura Marcas, mas encontra-se fora do catálogo atualmente. Não quero julgar o filme brasileiro - e é bom ver o país proliferar e investir nesta área -, mas infelizmente só entra para a história com mérito aquela obra que é realmente boa e bem feita.
CASSIOPÉIA
Direção: Clóvis Vieira
Roteiro: Aloisio Castro, José Feliciano, Robin Geld e Clóvis Vieira
Vozes: Osmar Prado (Leonardo), Jonas Mello (Shadowseat), Marcelo Campos (Chip), Hermes Barolli (Thot) e outros
Produção e Distribuição: NDR Filmes e PlayArte
Ano de lançamento: 1996
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