Disney em curiosidades - Parte 2


Foto de Walt Disney
A maior parte das biografias segue um básico roteiro para traçar toda (ou não) a vida de alguma pessoa. Esta Observação não! A ideia é seguir um modelo diferenciado, ainda mais por tratar de uma personalidade que não gostava de seguir regras e padrões: WALT DISNEY.

O modelo utilizado aqui seguirá a linha de curiosidades a respeito de sua vida, tendo como base três livros: Walt Disney – O triunfo da imaginação americana, de Neal Gabler, Walt Disney – Prazer em conhecê-lo e A Magia do Império Disney, ambos de Ginha Nader.

Cada capítulo, intitulado com uma curiosidade sobre sua vida e obra, é composto do contexto histórico no qual ela está inserida, sua relação com Walt e uma explicação da curiosidade, seja ela verdadeira ou não. O objetivo é tentar abranger as diferentes áreas de atuação do produtor e identificar seu legado.

Nesta SEGUNDA parte teremos:
- Curiosidade 2: Branca de Neve foi o primeiro longa-metragem de animação da história
- Curiosidade 3: Walt Disney odiava o Pateta
- Curiosidade 4: O programa Disneylândia foi o mais assistido dos anos 1950

CURIOSIDADE 2: BRANCA DE NEVE FOI O PRIMEIRO LONGA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO DA HISTÓRIA

Contexto histórico: O desenvolvimento do cinema e o surgimento som
Os irmãos Auguste e Louis Lumière
Os irmãos Auguste e Louis Lumière
Ainda hoje há muita polêmica sobre os créditos pela criação do cinema, mas os principais estudiosos de sua história afirmam ter sido Louis e Auguste Lumière em 1895, na França. Eles foram considerados os criadores por terem idealizado o cinematógrafo, um aparelho movido a manivela que utiliza negativos perfurados, substituindo a ação de várias máquinas fotográficas para registrar o movimento. O cinematógrafo tornou possível, também, a projeção das imagens para o público.

No entanto, tal feito só foi possível a inovação desenvolvida após a criação da fotografia, em meados do século XIX e também do cinetógrafo, desenvolvido por Thomas Edison, em 1888. Além disso, foi Robert William Paul, também em 1895, quem desenvolveu o teatrógrafo, aparelho de projeção em tela.

O título é dado aos irmãos Lumière pela produção de La Sortie de l'usine Lumière à Lyon (A Saída da Fábrica Lumière em Lyon), exibido naquele ano, no Grand Café, em Paris. Os pequenos filmes, feitos de maneira rudimentar, mostravam documentários curtos (tinham no máximo dois minutos de projeção) sobre a vida cotidiana. Os primeiros retratavam a saída dos operários das usinas Lumière, a chegada do trem na estação, o almoço do bebê, o mar, entre outros.
Cena do filme A trip to the moon, de Georges Méliès
Cena de A Trip to the Moon, de
Georges Méliès

Do início do cinema se destaca as produções de Georges Méliès, diretor dos primeiros filmes de ficção e considerado pai da arte do cinema. Outro importante nome foi D. W. Griffith, diretor de O Nascimento de uma Nação (1915), primeiro filme a ultrapassar a marca de 100 minutos de duração e principal responsável pela continuidade dos longas-metragens. O filme ficou em cartaz durante um ano e levou mais de um milhão de espectadores.

Com o recesso do cinema europeu durante a 1ª Guerra Mundial, a produção de filmes concentrou-se em Hollywood, na Califórnia, onde surgiram os primeiros grandes estúdios. Em 1912, Mack Sennett, o maior produtor de comédias do cinema mudo – que descobriu Charles Chaplin e Buster Keaton –, instalou a sua Keystone Company. No mesmo ano, surgiu a Famous Players (futura Paramount) e, em 1915, a Fox Films Corporation.

Don Juan, de Alan Crosland, com John Barrymore, primeiro filme com reprodução simultânea de imagens e somAs primeiras experiências de unir o som à imagem datam de 1889, com Thomas Edison. Em 1926, a Warner Brothers, fundada três anos antes, comprou do norte-americano Lee de Forest um aparelho de gravação magnética em película, que permitia a reprodução simultânea de imagens e sons.

No mesmo ano, entraria em cartaz o primeiro filme produzido com a tecnologia: Don Juan, de Alan Crosland, o primeiro com passagens faladas e cantadas. Seu sucesso levou ao aumento da produção do cinema falado e, já em 1929, representava 51% da produção norte-americana.

Outros centros industriais, como França, Alemanha, Suécia e Inglaterra, nesta mesma época começaram a explorar o som. A partir de 1930, Rússia, Japão, Índia e países da América Latina recorreram à nova descoberta.

Disney:
Ainda que tivesse começado com curtas-metragens, o principal sonho de Walt Disney sempre foi produzir longas. Com as comédias de Alice e, principalmente, as Sinfonias Ingênuas, seu projeto começou a ganhar corpo.

Logo das Walt Disney's Silly SymphonyFoi com as Sinfonias – projeto elaborado por Walt com receio perder o contrato de produção dos curtas do Mickey e não ter outra série em produção para sustentar o estúdio – que seu estúdio utilizou pela primeira vez as cores em animações.

Para que tal feito fosse possível, o estúdio Walt Disney firmou contrato de exclusividade com a Technicolor. Segundo Neal Gabler, “a Technicolor estava mais ansiosa ainda que Walt para concluir um acordo, pois os desenhos animados de Walt seriam uma forma de exibir o novo processo”.

E o resultado não poderia ser diferente que não o sucesso. A Sinfonia Ingênua escolhida foi Os Três Porquinhos com a música Quem tem Medo do Grande Lobo Mau?, alçado rapidamente tornou-se um fenômeno em todo os Estados Unidos em 1933 (faturando ainda um Oscar no ano seguinte em categoria criada especialmente para celebrar a animação).

Confira Os Três Porquinhos em português:

Somente o sucesso de Mickey Mouse e de Os Três Porquinhos que o produtor decidiu partir para um grande projeto: Branca de Neve e os Sete Anões em longa-metragem animado.

Sobre a curiosidade:
Gabler afirma que a escolha da produção partiu da lembrança de Walt ter assistido aos quinze anos uma versão teatral da obra no Centro de Convenções de Kansas City.

Mas o motivo, segundo ele, pode ter razões psicológicas mais profundas. “Branca de Neve tinha quase todos os atrativos narrativos – progenitor tirânico, a punição do trabalho duro, a promessa de uma utopia infantil – e agregava quase todos os grandes temas de sua vida juvenil, principalmente subjugar a geração anterior para afirmar sua própria maturidade, as recompensas do trabalho duro, os perigos da verdade e, talvez, acima de tudo, a fuga para a fantasia como um remédio para a realidade inóspita”.

Apesar da vontade de produzir o projeto, Walt recebia críticas por parte da sociedade que se posicionava contrária. A principal dificuldade, entretanto, se fazia na questão financeira. Sem conseguir financiamento em bancos, que se mostravam céticos, Walt chegou a hipotecar sua casa e fazer um empréstimo dando como garantia a apólice de seu seguro de vida.
Cartaz original do filme animado da Disney Branca de Neve e os Sete Anões
Comentava-se nos bastidores de Hollywood, que época já havia se tornado a Meca do cinema, que “dessa empreitada ele não conseguiria sair e dava-se como certa sua falência definitiva”, informa a pesquisadora Ginha Nader.

A pergunta que ficava era: para que um longa-metragem animado?

O resultado foi devastador. Três anos de produção, recriação de cenas várias e várias vezes pelos animadores, roteiro repassado em pente fino foram os principais responsáveis pelo sucesso que viria. Em 1937, com a benção de Charles Chaplin (cuja companhia, a United Artists, distribuiu o longa), Branca de Neve e os Sete Anões consagraria de uma vez por todas Walt Disney como o Midas da Animação.

O retorno havia sido estrondoso. O filme arrecadou apenas nos Estados Unidos e Canadá, até maio de 1939, 6,7 milhões de receita e tornou-se o filme norte-americano com maior arrecadação até então (Branca de Neve somente seria derrotada por ...E o Vento Levou, ainda em 1939). Walt ainda receberia uma premiação peculiar na festa do Oscar: oito troféus, sendo uma estatueta grande e sete estatuetas menores. Além disso, consagraria o gênero Animação entre os filmes de Hollywood.

Por conta do sucesso, muitos críticos da época apontaram como este sendo o primeiro longa de animação. Entretanto, este título cabe a Disney apenas em relação aos Estados Unidos, pois na Argentina, vinte anos antes, Quirino Cristiani lançava Él Apóstol, com duração de 70 minutos (logo, um longa-metragem). A obra hoje se encontra perdida após um incêndio destruir sua única cópia conhecida.

CURIOSIDADE 3: WALT DISNEY ODIAVA O PATETA

Contexto histórico: O nascimento dos movimentos sindicais
O sindicalismo tem origem, segundo o jornalista Altamiro Borges, na Inglaterra com a Revolução Industrial, fim do século XVIII e início do século XIX.

Em rápida pesquisa em livros de história temos a definição de que “a Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social”.

Neste período, as condições de vida dos trabalhadores foram alteradas. Durante o início da Revolução, os operários viviam em condições horríveis se comparadas às condições dos trabalhadores do século seguinte. Muitos dos trabalhadores tinham um cortiço como moradia e ficavam submetidos a jornadas de trabalho que chegavam até a 80 horas por semana. O salário era medíocre (em torno de 2.5 vezes o nível de subsistência) e tanto mulheres como crianças também trabalhavam, recebendo um valor ainda menor.

A Revolução Industrial também provocou um intenso deslocamento da população rural para as cidades, criando as concentrações urbanas. Trabalhadores, indignados com sua situação, reagiam das mais diferentes formas. E uma delas foi a criação do criação de trade unions, reunindo empregados de fábricas, e que na segunda metade do século XIX evoluiriam para os sindicatos.

Segundo o dicionário Michaelis, Sindicato significa “agremiação fundada para a defesa de interesses comuns a seus aderentes”. E Greve: “Aliança de operários, funcionários, estudantes etc., que recusam trabalhar ou comparecer onde devem, enquanto não lhes satisfazem as pretensões, ou não chegam a algum acordo”. Os dois termos foram com o tempo, meio que indiretamente, andando conjuntamente.

Em 1937, os sindicatos começaram a visar os estúdios de animação. O famoso estúdio Fleischer, em Nova Iorque, foi o primeiro. A greve, iniciada em maio daquele ano, perduraria por seis meses e terminaria com transferência do estúdio para a Flórida. Em seguida, Metro-Goldwyn-Mayer e Warner Bros..

Disney:
Art Babbit lidera grupo de grevista nos estúdios Disney
Babbit (de calça branca) lidera a greve contra Disney
Temendo o poder dos sindicatos da época, Roy Disney e o advogado do estúdio Gunther Lessing convidaram o animador Art Babbit a chefiar uma federação que representasse o direito dos trabalhadores da Walt Disney Productions. Walt, que afirmara que nunca negociaria com sindicatos, esperava assim assinar um acordo com a federação e manter as instituições trabalhistas fora.

Mas era tarde. Babbit, embora considerado um dos principais animadores do estúdio e também um dos maiores salários, mostrou-se simpatizante aos funcionários menos assalariados e se filiou à Associação dos Cartunistas. O animador seria demitido em seguida, o que foi o suficiente para desencadear a greve no estúdio.

O número de funcionários que realizou os protestos dependeu de quem fez a contagem. Babbit afirmava que dos 500 empregados em posições sobre as quais a associação tinha jurisdição 472 eram sindicalizados e, destes, 410 estavam em greve. Lessing disse ao New York Times que apenas 293 empregados estavam em greve. A maioria deles era de trabalhadores com menores salários. Apenas dois animadores-supervisores fizeram greve, Babbit e seu amigo Bill Tytla, outro dos principais artistas do estúdio e que logo depois quis desistir da ação.

Os problemas só chegaram ao fim com a intervenção do governo federal que intermediou um acordo. Mas o estrago já havia sido feito e Walt culparia Babbit – que ainda se manteria por algum tempo trabalhando no estúdio até pedir demissão – pelo fim da utopia de seu estúdio.

Sobre a curiosidade:
Pateta, personagem criado por Art Babbit para a DisneyPateta (Goofy, no original) foi criado no início dos anos 1930 para ser um dos melhores amigos de Mickey Mouse. Ele era descrito como um composto de eterno otimista, bom samaritano, imbecil, indolente e caipira bem-humorado.

A Segunda Guerra Mundial havia trazido muitas baixas para o estúdio Disney, quando se viram obrigados a parar quase toda sua produção e passar a realizar materiais instrutivos para os soldados norte-americanos. Ao fim da Guerra, Mickey praticamente deixara de existir e o Pato Donald era a única estrela sobrevivente. “Walt simplesmente odiava os desenhos do Pateta, ameaçando constantemente acabar com eles antes de desistir, em grande parte para dar trabalho aos seus animadores”, afirma Neal Gabler.

Por trás deste ódio havia uma razão óbvia: o criador de Pateta havia sido justamente Art Babbit. O animador nunca foi perdoado por Walt. Apenas em 1991, decidiu entrar em contato com o então chefe da Disney Company, Roy E. Disney, sobrinho de Walt, e este encerrou a rixa de anos. No ano seguinte, morreria de insuficiência renal, aos 84 anos.

CURIOSIDADE 4: O PROGRAMA DISNEYLÂNDIA FOI O MAIS ASSISTIDO DOS ANOS 1950

Contexto histórico: O surgimento das emissoras de televisão
As primeiras transmissões televisivas de que se têm notícia datam dos anos 1930 pelos europeus. O novo meio de comunicação foi impulsionado pela Segunda Guerra Mundial devido aos avanços tecnológicos surgidos com as necessidades da guerra e à renda adicional disponível.

França e Alemanha foram oficialmente os primeiros países a emitir sinal de televisão, em 1935. No ano seguinte, seria a vez da British Broadcasting Corporation (BBC), na Inglaterra. A Rússia realizaria sua primeira transmissão 1938. Já os Estados Unidos foi a última grande potencia da época a entrar na era televisiva, em 1939, com a National Broadcasting Company (NBC).

Ao fim dos anos 1930, à exceção da Alemanha, os demais países europeus fecharam suas emissoras de televisão focando a grande guerra.

Nos Estados Unidos, a produção televisiva também perdeu força, retomada apenas a partir 1941, com a Columbia Broadcasting System (CBS) e novamente a NBC.

Disney:
Walt, segundo Neal Gabler, sempre foi fascinado pela televisão. Durante a Segunda Guerra Mundial esteve trabalhando para o exército norte-americano, que, além de ocupar parte do terreno de seu estúdio, também limitava sua produção de curtas e longas animados.

Na internet, há um vídeo bem interessante do Pato Donald em uma sátira ao nazismo (o vídeo levaria o Oscar de melhor curta metragem em 1943) que serve para ilustrar esta parte de sua vida.

Confira o Pato Donald em Der Fueher's Face:

À época, Disney também começava a elaborar seu plano de criar um majestoso parque onde não apenas as crianças pudessem se divertir: a Disneylândia. Faltava-lhe, no entanto, uma maneira de financiar seus planos, já que a Walt Disney Company encontra-se com várias dívidas e sem nenhum longa metragem que pudesse gerar grande expectativa do público.

Assim como Disney, a American Broadcasting Company (ABC), a mais nova das principais emissoras norte-americanas, sonhava grande. Tencionava melhorar sua audiência com o convite aos grandes estúdios de cinema para que criassem programas exclusivos para a televisão.

Logo do programa televisivo Disneyland, exibido no canal ABC
Sucesso do programa Disneyland na ABC redefiniu
relacionamento das emissoras de TV com as produtoras
de cinema nos Estados Unidos
Havia, entretanto, o temor entre os mesmos estúdios de que a TV lhes tomaria o espaço e, com isso, a renda.

Warner Bros., MGM, Universal, entre outras, foram negando uma a uma a participação de qualquer projeto neste sentido. Até que o então presidente da ABC Robert Kintner chegou a Walt Disney, em 1953. Em troca de um programa exibido cinco dias da semana, para o temor dos acionistas da empresa, Disney pediu que a emissora financiasse seu parque na Califórnia. E assim foi feito.

Sobre a curiosidade:
O primeiro programa de Disney a ser exibido na ABC foi o Disneyland (Disneylândia), ao ar a partir de 27 de outubro de1954. Com o intuito de mesclar parte da construção do parque, desenhos animados e outros curtas, o programa se provou um grande sucesso. Todas as suas reapresentações a partir daquela data levaram a audiência a bater todos os demais programas de televisão, exceto a comédia de situação I Love Lucy, de Lucille Ball.

Só para destacar o êxito, antes da Disneylândia, a ABC não tinha nenhum programa entre os 25 de maior audiência nos Estados Unidos, diz Gabler. O programa de Walt Disney após sua estreia passou a responder por quase a metade de toda a renda publicitária da rede.

Por conta disso, o Walt Disney Productions foi responsável pela mudança de relação entre estúdios de cinema e emissoras de televisão dos Estados Unidos. Foi somente após o sucesso de Disneylândia que ambos chegaram a um acordo. Em 1955, Warner Bros. e MGM assinaram com a ABC, e a Twentieth Century-Fox com a CBS.

A título de curiosidade, em 1996, a própria Disney comprou a ABC.

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