Gosto de pensar que bons filmes nos remetem a lembranças – ora boas, ora ruins – sobre algo que direta ou indiretamente nos liga àquela história.
Algum filme te faz pensar da mesma maneira? Qual história ele tem para você?
O CORVO, filme de 1994, faz-me lembrar de pelo menos três histórias:
- A que motivou a produção dos quadrinhos, que deu origem ao filme;
- O fim prematuro da carreira de Brandon Lee, filho de Bruce Lee e astro principal desta produção;
- E este ser um dos poucos filmes que assisti sozinho com meu pai.
A Observação a seguir detalhará as três histórias em questão.
MAIS DO QUE TUDO, UMA DEDICATÓRIA AO AMOR
James O'Barr |
Em 1978, James O’Barr não era conhecido, apenas um órfão criado no sistema de assistência social. Sua noiva Beverly – então com dezoito anos – foi atropelada por um motorista bêbado e acabou falecendo. James, então, entrou para a Marinha estadunidense e acabou na Alemanha desenhando manuais de combate para o Exército. Em seu retorno ainda pensava bastante na amada e começou a criar uma história que levaria sete anos para conseguir ser publicada. O nome desta história era O Corvo.
Cena da HQ de O Corvo |
Após esta que acabou considerada sua obra-prima, James tem ilustrado poucas histórias em quadrinhos, dedicando-se apenas a produzir capas e em expandir o universo do personagem que criou.
NÃO PODE CHOVER O TEMPO TODO
Brandon Lee |
As cenas entre Eric e Shelly Webster (Sofia Shinas) foram deixadas para o final para que o ator pudesse filmar sem a preocupação com a maquiagem. Em determinado momento, Eric entra no apartamento e é surpreendido com bandidos espancando e estuprando sua noiva. Ao tentar ajudar acaba atingido por Funboy (Michael Massee). O que ninguém sabia era que a arma continha um projétil de verdade e não de festim.
A bala que alvejou Brandon atravessou seu abdômen e ficou alojada na coluna, causando muito sangramento. Mesmo com uma cirurgia de seis horas não foi possível salvar a vida do ator. O motivo de a bala estar naquela arma foi que em cenas anteriores o diretor se viu obrigado a utilizá-las para mostrar um dos personagens armando e engatilhando uma arma. Após isso, houve uma confusão e ela acabou misturada com as de festim.
Rochelle Davis |
Brandon e sua noiva Eliza Hutton |
A Paramount, temendo baixo retorno e críticas por distribuir o filme, abandonou o projeto, que só chegou aos cinemas com os esforços do diretor Alex Proyas e da noiva de Brandon, Eliza Hutton (com quem tinha casamento marcado para o mês seguinte). A Miramax injetou novo investimento no filme e convenceu a todos de voltar para finalizar a produção.
UMA HISTÓRIA LIGADA POR MORTES
Diferente de Alex e Eric, minha história com O Corvo não envolve assassinato ou acidentes. Mas, assim como a deles, trata-se de um acontecimento prematuro. Em 15 de fevereiro de 2003, meu pai veio a falecer, vítima de um infarto fulminante.
Lembro-me bem do dia em que entramos em uma locadora de filmes recém-aberta próxima de nossa casa no interior do estado de São Paulo. A condição para fazer a ficha de cadastro era o aluguel do primeiro filme, rapidamente escolhido por meu pai.
Não lembro se era fã de Bruce Lee ou Brandon Lee. Recordo que gostava de filmes com pancadaria e sabia que este tinha sido o último filme do filho do mestre do Kung-Fu. Pouco importa se gostamos ou não – e gostamos –, mas foi somente anos depois que me liguei das circunstâncias especiais que liga nossa história a dos dois mencionados acima. Desde então este se tornou um dos meus filmes favoritos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O roqueiro Eric Draven está morto... mas, estranhamente, ainda vive. Ele ainda não pode descansar em paz, não enquanto os vermes responsáveis por sua morte e também pelo assassinato de sua noiva permanecem vivos. Assim, Draven retorna de seu túmulo para submeter seus matadores a uma implacável vingança. E ele não está sozinho. Um amedrontador corvo do outro mundo guia Draven em sua jornada”.
Para quem não conhece, eis a sinopse de O Corvo. Inovador? Não sei, mas tem momentos muito bons. Brilhante? Tem falhas, mas se destaca entre os filmes do gênero. Especial? Não resta dúvidas.
Adoraria falar mais deste longa, mas já escrevi bastante e ao contar tais histórias já valeu a pena. Nem todas as obras são feitas para todos, existem algumas que ficam na memória de certas pessoas tornando-o cult. Este é um deles.
“Se as pessoas que amamos são tiradas de nós... o jeito de mantê-las vivas é continuar amando-as. Os prédios queimam, as pessoas morrem... mas o amor verdadeiro é para sempre”.
Obs.: foram produzidos mais três longas-metragens baseados no universo do personagem, além de uma série de televisão (com apenas uma temporada) e diversas minisséries em quadrinhos. Todos com resultado inferior ao original.
Confira o trailer do filme:
O CORVO
Título original: The Crow
País de origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 1994
Elenco: Brandon Lee (Eric Draven), Rochelle Davis (Sarah), Ernie Hudson (Sargento Albrecht), Michael Wincott (Top Dollar) e Sofia Shinas (Shelly Webster)
Roteiro: David J. Schow e John Shirley
Direção: Alex Proyas
Textos da série especial Memórias:
Demolidor - Diabo da Guarda - Toy Story 3 - O Corvo - Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
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