Enid Coleslaw acredita que seu namorado perfeito não existe, ela também não gosta das garotas que estampam as capas de revistas de moda e jura ter visto um casal de satanistas em uma lanchonete. Enid acabou de sair do colégio e passa seus dias com a amiga Rebecca Doppelmeyer. Elas vivem numa pequena cidade americana e ainda não sabem o que fazer de suas vidas.
MUNDO FANTASMA é uma revista em quadrinhos escrita por Daniel Clowes, publicada em volume único, em 1997. Divida em 8 capítulos, narra o dia a dia de duas adolescentes que possuem uma atitude cínica e, aparentemente, desinteressada perante o mundo.
A seguinte OBSERVAÇÃO tem por objetivo abordar os aspectos que fazem da obra uma leitura interessante não só sobre a adolescência de hoje, mas também sobre a busca de cada pessoa por uma identidade própria.
PEDÓFILOS, SATANISTAS, SERIAL KILLERS E ANOS 60!

Recém-formadas no ensino médio, as adolescentes passam seu tempo tentando arranjar alguma coisa interessante para fazer: Enid vai a uma lanchonete e é apresentada a um ex-padre pedófilo. No mesmo local ela desconfia que um casal pratique satanismo. Num dia entra em um sex shop com Josh (amigo dela e de Rebecca), no outro, marca um encontro, só para se divertir, com um homem que elas encontraram na seção de anúncios pessoais do jornal, e por aí vai. O próprio autor dá as caras no quadrinho como um velho pervertido! (Embora ele mesmo se desminta ao final, no perfil do autor).
A cultura pop dos anos 60 é bastante presente. Músicas de Righteous Brothers e Frank Valli and Four Seasons aparecem, assim como algumas referências a seriados da década de 60 e 70, como Os Jeffersons. Alías, Enid conta que perdeu sua virgindade assistindo a um episódio dessa série.
Na televisão de o Mundo Fantasma, passam programas humorísticos ou notícias sobre serial killers. As garotas apenas ignoram ou dão risada. Um dos mistérios da história são as pichações com a frase ‘Ghost World’. Espalhadas em vários cantos da cidade e que aparece até no álbum de fotos de Enid quando era criança.
GERAÇÃO Y E BUSCA POR IDENTIDADE

A imagem segura e cínica da garota esconde uma personalidade em conflito. Ela sempre aparece com um visual diferente em cada capítulo, como uma tentativa de encontrar sua própria identidade e seu papel no futuro. Rebecca, ao contrário, é sempre mais serena e madura.
Outro traço da Geração Y em Enid é a ‘Síndrome de Peter Pan’ - na psicologia, o termo é usado em casos onde a pessoa possui comportamento infantil, com atitudes imaturas para sua idade, recusando-se a entrar no mundo dos adultos. Isso é evidenciado na cena em que Enid volta para o lugar onde estava vendendo suas coisas para pegar de volta o ‘Gus Bobo’ (seu boneco de infância) ou quando, desesperada, procura pelo disco que ouvia quando era menor.

OBSERVAÇÕES FINAIS
O ponto forte em o Mundo Fantasma é o seu realismo. A passagem da adolescência para a vida adulta é retratada sem exagero, com suas decepções e lutas internas. Em um universo (o dos quadrinhos) recheado de heróis e histórias fantasiosas, Clowes, praticamente sem roteiro, conseguiu extrair de um tema comum - adolescentes entediadas - um assunto que preocupa a todos: amadurecimento. Os traços esverdeados do autor ajudam no sentimento de monotonia e melancolia e a amizade entre Enid e Rebecca é a representação de muitas outras mundo afora.
As pichações com a frase ‘Ghost World’ podem representar um mundo que está sempre ali, mas a protagonista insiste em não ver. No fim, ela encontra várias delas pelas ruas onde caminha, mas nunca alcança quem as faz. Isso pode ser entendido como uma analogia. A vida adulta está chegando e não há como evitar.
A reposta para a pergunta de Enid, e que também é o título dessa observação, sobre qual é seu estilo, é respondida por seu amigo Josh: “É desafiar definições”. Eu concordo, e vocês?

Título original: Ghost World
Roteiro e arte: Daniel Clowes
Tradução: Maurício Muniz
Editora: Gal Editora
Ano de lançamento: 2011
HQ observada por Tiago Oliveira.
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