Mercury Man | O herói que veio de longe

Um pequeno garoto usa seus estranhos poderes sobrenaturais para lucrar com jogos de azar quando é pego em uma emboscada. Uma mulher lidera uma gangue por meio de longínquas regiões do Tibet em busca de uma relíquia muito peculiar. E após um instigante prólogo de dez minutos antes dos créditos do filme, ainda temos um bombeiro que leva até mesmo os treinamentos a sério demais.

Em meio a essas estranhas histórias ainda sobra espaço para uma frase conhecida, embora levemente alterada para se encaixar o filme: “com grandes incêndios, vêm grandes responsabilidades”.

Você pode achar que esta é uma Observação de um longa de super-herói qualquer, mas dificilmente acertará de onde ele vem. Conheça MERCURY MAN!

O HERÓI TAILANDÊS

Chan é um bombeiro que, segundo seus colegas e superiores, age mais do que deveria. Enfrenta situações de risco, mesmo recebendo ordens de evacuações de locais onde o fogo já quase dominou tudo, para salvar até a última pessoa. Deveria ser considerado um exemplo, mas é rebaixado a responsável pela sala de equipamento.

Sua vida muda quando, na tentativa de conter um incêndio na prisão, acaba envolvido em uma fuga de um perigoso bandido e é ‘morto’ pelo policial corrupto que ajudava o bando. A arma utilizada para tal fim, entretanto, é a chave da sua salvação, pois era uma relíquia que continha o misterioso Amuleto do Sol. A partir daí, o herói precisará lidar com o ‘fogo’ que domina seu corpo e é a origem dos poderes que surgirão.

Eis a gênese de mais um super-herói, assim como tantos estadunidenses. Mais do que isso, ficam algumas curiosidades sobre ela, umas até divertidas:

- A roupa de Chan é projetada (e produzida) por sua irmã, que faz ilustrações de heróis criados por ela mesma.

- “O calor vem de um coração impaciente. O frescor vem de um coração calmo. Quando há um calor, há uma fonte. Para acabar com o calor, deve fazer isso na fonte. Se o calor vem do coração, acabe com ele lá” – Esta é mais uma combinação de palavras que não devem ser ditas para alguém que acabou de supostamente morrer, surgir em um lugar misterioso, que nunca viu na vida, e está com seu corpo pelando mais do que com febre alta! Mas são as primeiras que Chan ouve assim que tem o amuleto enfiado no peito.

- Se não ficou claro, o ‘fogo’ do herói varia de acordo com o batimento do coração. Ou seja, quanto mais nervoso, mais fervendo ele fica. Ah, e isso vale para excitação também e rende uma piadinha bem engraçada no final do filme, quando ele se despede de Punima, a jovem do Tibet mandada por sua tribo para recuperar o Amuleto da Lua (roubada pelos vilões) e que o treinou e o ajudou a derrotá-los:

“- Sua mão está quente. O que foi? – ela diz.
 - Estou um pouco nervoso – Chan responde. Eles se entreolham e sorriem um para o outro”.

- O nome do herói, assim como de todo bom herói, é dado pelos jornais, mas também não é explicado o porquê da escolha.

(D)EFEITOS ESPECIAIS

Os produtores deste longa-metragem orgulham-se de estampar no cartaz da obra que as cenas de luta foram idealizadas pela mesma equipe de Ong-Bak. Para quem não conhece, é um filme tailandês que ganhou bastante notoriedade no ocidente principalmente por não fazer uso de dublês ou efeitos computadorizados em suas cenas de luta. Para quem conhece, uma única certeza vem a mente... faltou o Tony Jaa em Mercury Man!

Mercury Man, afinal, é ruim? Bom... não espere uma obra-prima, mas é um filme acima de outras obras do gênero oriundas dos Estados Unidos, como Electra e Mulher-Gato. Tem o mesmo ar sombrio de O Corvo e Demolidor, e peca em diversos momentos.

Os poderes do herói não ficam muito claros, sabe-se apenas que vieram do amuleto. Entretanto, esse é o menor dos males, ou você quer comparar com um cara que ganha poderes após ser picado por uma aranha radioativa?

Os problemas do longa tailandês vão além do herói, ou estão nele, mais precisamente em seu alter ego, um ator com um rosto jovem, que até combina com o personagem e a situação, mas com péssima atuação. E isso vale para muitos dos outros do elenco. Um exemplo é quando uma bomba está sendo disparada em um navio com armas químicas, o que causará uma enorme explosão em uma região lotada de crianças. Todos ficaram com medo ou tentarão fazer alguma coisa o mais rápido possível, você pensa. Mas isso não é o que vale para o capitão, que simplesmente faz seu trabalho da maneira mais despreocupada e lenta que pode.

Além disso, tem os efeitos especiais deveras fracos, onde facilmente podemos identificar os pontos em que fazem uso de animação para suplantar suas próprias deficiências com o carne e osso.

CONTORNANDO A LIMITAÇÕES

Se por um lado o longa-metragem é ruim, por outro é louvável o respeito pelos velhos e bons clichês do gênero ‘super-herói’. É fácil identificar em Mercury Man diversos deles: poderes especiais legais, vilões com roupas espalhafatosas e cara de vilões, cenas de lutas bem combinadas (algumas meio esdrúxulas, mas ainda sim bem realizadas. Destaco aqui uma quase no final entre duas moças, onde a câmera fica girando) e, por que não, frases de efeito. Coisas do tipo:

“- Quem é você?
- Eu sou um bombeiro”.

ou

“Por que não pensa antes de agir? Está tentando ser herói? É isso? Até o Homem-Aranha pensa antes de agir”.

Aliás, o Homem-Aranha parece ser a principal referência de herói para os produtores do filme. A forma como o tailandês usa seu poder lembra bastante a do Amigão da Vizinhança, falta apenas a teia. E até a frase chave do nova-iorquino (‘Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades’) é lembrada neste filme logo no começo, como apontamos acima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mas esqueci de dois pontos importantes que roubam a cena neste filme: a crítica social e a irmã do herói.

Grace colocando a tal médica para dormir!
Já te contei que foi ela a responsável pela roupa do herói, mas não revelei que Grace é transexual. Sim, exatamente... e se você acha que alguém liga para tal, está completamente enganado. O roteiro até brinca com isso!

“- Vou castrar você em 5 minutos – disfere uma médica vilã após pegar uma tesoura para se defender.
Grace apenas ri, a coloca para contar carneirinhos e diz: Sinto muito, mas o médico já fez isso”.

É genial!

E para finalizar, descobrimos que as razões por trás do vilão em destruir tudo que é ligado aos Estados Unidos na Tailândia são até dignas de se pensar (ainda que sem as ações extremas feitas por ele e presentes no final do discurso que lerão a seguir):

“Vocês podem até achar nossas ações maldosas... como as de um animal selvagem que mata a esmo. Mas digo a vocês uma coisa... tentamos viver com eles pacificamente... mas fomos levados à guerra. A guerra foi iniciada pelos que detém o poder. Eles incitaram uma guerra que nos dividiu. Quem deu as balas aos sérvios? Quem começou uma guerra contra o Afeganistão? Foram aqueles de fora de nossa religião. Nos deram munição para que matássemos uns aos outros. Desenharam fronteiras que determinaram nosso destino... com sangue e lágrimas de nossos netos. Não podemos aceitar uma paz cheia de sofrimento. Eles também têm que sofrer. De agora em diante, vamos determinar nosso destino. Que Alá tenha misericórdia por todos nós”.

Revise a história e pense nisso! E assistam Mercury Man, vale a pena!

Trailer do filme:

MERCURY MAN
Estúdio: Sahamongkol Film International
País de origem: Tailândia
Ano de lançamento: 2006
Diretor: Bhandit Thongdee
Roteiro: 
Elenco: Wasan Khantaau (Chan), Jinvipa Kheawkunya (Purima) e Parinya Kiatbusaba (Grace)

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