Steve Carell e Rick Gervais interpretam dois dos ‘mandachuvas’ mais engraçados que você já viu, ou não. O primeiro é Michael Scott, protagonista do THE OFFICE estadunidense, o outro é David Brent, o chefe e criador do original britânico.
A seguinte análise vai mostrar os aspectos mais irritantes e, porque não, cativantes de cada um deles. Suas loucuras, manias e as consequências que isso tem para eles e suas respectivas equipes.
Abra a porta, puxe uma cadeira e embarque neste escritório e nesta Observação conosco!
MICHAEL, O BEM INTENCIONADO
Steve Carell dispensa apresentações. Mas por que não uma?
Steve é mais uma das crias do longevo programa de humor estadunidense Saturday Night Live, criado em 1975, e de onde também saíram atores como: Eddie Murphy, Tina Fey, Mike Myers, Dan Aykroyd, Adam Sandler, Rob Schneider, Bill Murray, Julia Louis-Dreyfus, Chevy Chase, James e John Belushi, Steve Martin, Billy Crystal e muitos outros.
Talvez, de sua geração, tenha sido o último a alcançar relativo sucesso, apenas em 2003, com um pequeno – mas bem divertido – papel no filme Todo Poderoso. O personagem ganhou tamanho destaque que foi o protagonista da continuação (A Volta do Todo Poderoso, de 2007). Mas foram dois filmes entre esses mencionados que o tornaram uma figura bastante conhecida em Hollywood: o aclamado pela crítica Pequena Miss Sunshine (2006) e O Virgem de 40 Anos (2005), que lhe rendeu o MTV Movie Award de Melhor Atuação Cômica.
Agora chegamos ao Michael Scott, gerente regional da filial de Scranton da Dunder Mifflin Paper Company.
Michael começou como uma cópia de David, de Ricky Gervais. Em sua primeira temporada ele soa como o chefe chato que faz de tudo para infernizar seus comandados, aparentemente não dando a mínima para ninguém.
A partir do segundo ano da série o personagem muda. Chato? Cheio de brincadeiras sem noção e fora de hora? Frases desconcertantes em momentos altamente questionáveis? Sim, mas descobrimos que para tudo há um limite. Logo no primeiro episódio, em meio a uma cerimônia de homenagem aos funcionários, Michael segue com a entrega de vários prêmios que mais humilham do que celebram seus subordinados. O problema é que ele faz isso em um bar aberto a qualquer um e ao ser confrontado por um grupo de frequentadores do local, que inclusive jogam várias bolas de papel nele (“Você é um chato”, diz um deles), Michael pede que desliguem o som e desiste da brincadeira. Ele apenas prossegue graças aos apelos de Jim e Pam.
Aqui fica claro que este novo Michael ainda age por impulso, mas sente a necessidade de um retorno positivo, mesmo que do eterno puxa-saco Dwight, para dar continuidade às brincadeiras (aliás, como esquecer da célebre frase: “Eu não quero alguém me bajulando por pensar que vou ajudar em sua carreira. Quero eles me puxando o saco por me amarem genuinamente”).
Outro exemplo claro deste limite é quando descobre que Oscar é homossexual. Mas ele só vem a saber desta informação após ser reprimido por outro colega de trabalho, para quem Oscar foi reclamar após ser chamado de ‘gay’ por Michael. Ele fica consternado, mas claro que ao jeito dele: “Eu nunca o trataria assim se soubesse. Não se chama um retardado de retardado. É de mau gosto. Você chama seus amigos de retardados quando eles agem ‘retardadamente’. E considero o Oscar um amigo”.
Aqui é possível ver que ele não é totalmente sem noção, entende que a linha do preconceito, ao menos, não deve ser ultrapassada.
Por fim, o último ponto que pretendo chamar a atenção é justamente uma extensão deste que acabei de mencionar. Michael vê o escritório e sua equipe como sua verdadeira casa e sua família, respectivamente.
Dwight, por mais que castigue, trata como irmão (o episódio da traição de Dwight e a reação de Michael é imperdível!); Jim é praticamente seu filho (ele se culpa pela ida deste para outra filial da empresa até descobrir que o motivo não era o descontentamento com suas piadas); Pam é sua garotinha (apesar das piadinhas de duplo sentido ou de um só...!); e os demais, que ele não vê (ou prefere não ver) que não gostam muito dele, são parentes muito, muito próximos. Ah, e sua chefe Jan é sua esposa ideal (mesmo que não!).
Carell ficou na série até a sétima temporada (ela ainda teve mais duas com outro gerente regional), mas deixou sua marca final em seu último episódio. A entrega do microfone, a ida silenciosa ao avião, o último abraço de Pam, o voo e, o melhor de tudo, sua festa de despedida sem ele, afinal havia mentido no escritório sobre seu último dia porque justamente não queria dar adeus a ninguém. Steve/Michael mostrou porque era um gênio.
DAVID, O CHEFE ‘DOM QUIXOTE’
“A vida é uma série de altos e baixos e você não sabe onde está até começar a subir ou começar a descer. Você nunca sabe o que está na esquina. Mas está tudo bem”.
Menos conhecida que a versão americana, a série original foi exibida no Reino Unido entre 2001 e 2003 (duas temporadas, mais dois especiais de natal). Criada por Ricky Gervais também apresenta o cotidiano de uma empresa que lida com o mercado de papel, a Wernham Hogg Paper Company e pode ser definida como uma série de comédia e drama. Como gerente regional da filial da cidade de Slough temos David Brent (interpretado por Gervais).
Desagradável, egocêntrico, cínico, mentiroso, péssimo piadista, convencido, displicente e inconveniente (ufa!), Brent é o foco em The Office (UK). Filmada como se fosse um documentário (o termo em inglês é Mockumentary – quando a ficção é filmada como se fosse realidade), a série mostra o dia-a-dia de David e sua equipe. Brent é um terrível administrador, Em um dos episódios uma superior pede para que ele demita algumas pessoas para cortar custos e, ao invés disso, ele contrata uma secretária pessoal, escolhida, claro, por méritos de beleza!
Uma amostra de seu ‘carisma’ pode ser vista quando ele resolve brincar com Dawn, a secretária do escritório. Para mostrar ao novo estagiário o quanto ele é ‘brincalhão’, ele a chama em uma sala para demiti-la (de mentira, claro) e uso o argumento de que a moça roubou mais de mil post its da empresa! No fim, ao revelar que era “apenas” uma pegadinha, o gerente ouve de Dawn, aos prantos, “Seu idiota!”.
Brent é um homem fora da realidade, que vive dentro de seu mundo. Uma espécie de Dom Quixote dos chefes de empresa. Hilário, também, o episódio em que ele tenta mostrar ao estagiário que conhece muito sobre Shakespeare, ou quando ele confessa que já teve uma banda de rock e começa a tocar violão no escritório no meio de uma reunião.
Mais preocupado em ser popular do que liderar uma equipe, chega a ser patético vê-lo tentar ser engraçado e agradável.
Se Michael, da versão americana, não é um total sem noção, o mesmo não pode ser dito de David. Mas se a impressão de quem leu até aqui é de que você sentirá raiva de Brent, está muito enganado. Principalmente na primeira temporada, prepare-se para rir, e muito!
A interpretação de Gervais é fantástica. Vale citar vários trejeitos de David, como mexer na gravata e sempre olhar para a câmera quando estiver falando de si mesmo (o tempo todo!).
Na segunda temporada, o tom muda um pouco. As partes cômicas continuam, mas dão espaço para uma abordagem mais pessoal das personagens. Assim como Michael, Brent tem sua vida baseada na empresa. Ela é sua família e casa. Em vários momentos conseguimos perceber que por trás da personalidade excêntrica e desagradável de David, existe alguém muito solitário e sem vida social que vive, como já dito anteriormente, dentro de um mundo próprio, no estilo Dom Quixote.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Imagine agora um encontro entre essas duas figuras. Pois bem, ela aconteceu...sim, eu sei que se tratam de duas pessoas fictícias, mas Steve e Ricky não pareciam muito com Steve e Ricky. É claro que a brincadeira vale mais para quem já assistiu as duas versões, mas vale a pena ver os vídeos abaixo.
O primeiro é uma participação de David na sétima temporada do The Office estadunidense:
O segundo, possivelmente melhor, foi uma cena executada entre os dois atores na entrega do Golden Globe 2011:
A grande sacada em The Office é que ela é muito mais do que uma simples série humorística - se você não derramar uma lágrima de emoção ao término da segunda temporada da versão inglesa, é porque tem um coração de pedra – ela aborda temas como o comportamento humano e as situações que ocorrem dentro de um escritório. Por isso, não se assuste ao achar semelhanças entre alguns personagens e pessoas do seu próprio trabalho!
THE OFFICE (ESTADOS UNIDOS)
Título original: The Office
Criadores: Ricky Gervais e Stephen Merchant
Temporadas: 9 (2005 – 2013)
Elenco: Steve Carell (Michael Scott), Jenna Fischer (Pam Beesly), John Krasinski (Jim Halpert), Rainn Wilson (Dwight Schrute), B. J. Novak (Ryan Howard)
THE OFFICE (REINO UNIDO)
Título original: The Office
Criadores: Ricky Gervais e Stephen Merchant
Temporadas: 2 (2001 – 2003)
Elenco: Ricky Gervais (David Brent), Martin Freeman (Tim Canterbury), Lucy Davis (Dawn Tinsley) e Mackenzie Crook (Gareth Keenan)
Série observada a quatro mãos por Tiago Oliveira (versão britânica) e Tiago Souza (versão estadunidense).
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