500 dias com ela | Isto não é uma história de amor

Tom Hansen pensava que nunca seria feliz enquanto não achasse a sua alma gêmea. Já Summer Finn apenas amava duas coisas: seu longo cabelo negro e a facilidade de cortá-lo sem sentir nada. Um dia suas histórias se cruzam e eles passarão 500 dias juntos.

Assim conhecemos os personagens principais de 500 DIAS COM ELA, filme no tradicional estilo “boy-meets-girl” (garoto encontra garota, em português) e que apresenta duas pessoas com estilos e objetivos diferentes, normalmente resultando na sua união no final (modelo copiado continuamente entre as comédias românticas).

Esta Observação vai mostrar como este relacionamento, mesmo não terminando de um modo que agradasse os dois lados, os ajuda a enfrentar e arriscar novas possibilidades em suas vidas. E como uma obra inovadora pode romper com uma métrica tão tradicional.

E COMEÇA (OU TERMINA) O VERÃO...

Tom está desiludido e não para de quebrar pratos (propositalmente) em sua cozinha. Seus amigos nada podem fazer e resolvem chamar Rachel, sua irmã mais nova, para contê-lo. O motivo da revolta é Summer: ela terminara a relação com ele e o deixou arrasado.

A partir daí, a obra segue com alguns dos dias em que Tom e Summer estiveram juntos, em uma narrativa não linear, rondando o momento em que se conhecem até os eventos que levaram à separação.

É AMOR, NÃO É PAPAI NOEL!

O sonho de Tom era trabalhar com arquitetura, mas, ao invés disso, ganha a vida inventando textos para cartões comemorativos (dia dos namorados, aniversários etc.) em uma empresa aparentemente maior do que parece ser. E é neste local que conhece Summer, a nova assistente de seu chefe, e se apaixonando instantaneamente.

É uma sexta-feira, e faz um mês que Tom admira Summer secretamente (ok, dois amigos dele também sabem dessa admiração), os funcionários da empresa se reúnem em um karaokê. Depois de alguns drinks, Tom e seu colega de trabalho McKenzie discutem sobre relacionamentos com Summer. A garota deixa bem claro seu pensamento de não gostar de namoros, pois não se sente bem sendo “alguma coisa de alguém” e afirma não acreditar no amor. Contrariado, Tom argumenta que a moça não sabe o que está perdendo e que pode se apaixonar a qualquer momento.

Esse é um dos momentos-chave da trama, pois elucida o modo antagônico como Tom e Summer tratam o tema ‘relações afetivas’. Ele acredita no amor e em um envolvimento mais sério. Ela apenas quer aproveitar o agora e deixar coisas sérias para o futuro.

Não muito depois, os dois se beijam e começam sair. Desde o princípio Summer deixa claro que não está a fim de nada sério. Ele entende (ou finge entender) e ambos decidem não rotular o que estava acontecendo.

NÓS SOMOS... AMIGOS

As coisas estavam indo bem, o casal saia, se divertia e agia como namorados, mas a falta de algo concreto, de uma certeza na relação atormentava Tom. Certo dia, após uma discussão, o rapaz indaga a Summer sobre o que realmente está rolando entre eles. Summer diz que são amigos. Ele rebate: “amigos não fazem sexo no banheiro, eu digo que somos um casal”.

Deste ponto em diante o filme tem uma virada e a relação entre eles, embora continue por algum tempo, não é mais mesma. Tom quer um namoro, uma certeza; Summer sabe que não pode oferecer isso e termina tudo. Ela logo deixa de trabalhar no escritório e Tom, com o coração partido, pede as contas em seguida.

Depois de algum tempo, eles se encontram em um casamento de um amigo em comum e Summer o convida para ir numa festa em seu apartamento. Cheio de esperanças, Tom vai até lá esperando uma possível volta e se depara com um fato mais improvável do que poderia imaginar: Summer estava noiva de alguém, um alguém que não ele.

Desnecessário dizer que isso o deixa mais que derrubado. A garota que não queria assumir compromissos, nem ser nada de alguém, iria se casar. Tom foge se sentido enganado e resolve focar sua vida em seu talento: a arquitetura. Desempregado, o ex-escritor de cartões começa a fazer entrevistas de emprego e numa delas encontra uma moça que disputava a mesma vaga, ele a chama pra sair e para surpresa de Tom, e do espectador, a garota se apresenta com o nome de Autumn (Outono). Ela aceita. O filme acaba.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No fim, as pessoas podem ter a impressão de que Summer seria a vilã do filme, que ela estragou o final feliz. No entanto, devemos lembrar que desde o princípio Summer foi honesta com Tom: nada de rótulos e relacionamentos sérios, apenas deixar rolar. Foi ele quem idealizou o romance e fez sua necessidade de rótulos atrapalhar o que os dois tinham.

Durante boa parte do filme, Tom fala sobre Summer ser sua alma gêmea e coisas do tipo, mas como sua irmã mais nova (e espécie de mentora para ele) lhe disse em certo momento, Tom apenas estava olhando as boas lembranças do casal. Ele não estava vendo a coisa toda, os sinais que Summer dava de que talvez não poderia dar ao rapaz o tipo de relacionamento que Tom queria.

Summer parece ter enganado Tom e o espectador ao ter se casado. Mas assim como os 500 dias mudaram Tom, ela também mudou e começou a acreditar em amor e destino. A diferença é que Summer parece ter encontrado a coragem para manter um relacionamento sério e duradouro em outra pessoa, que não Tom (curiosamente, ele havia dado a deixa a ela de que poderia se apaixonar quando menos esperasse).

Talvez o final triste do casal (mas não do filme, afinal o narrador nos avisa logo no início de que esta não era uma história de amor) tenha sido bom para ambos separadamente. Tom voltou a se dedicar à arquitetura (sonho que ela o encorajou a seguir, mas que seu comodismo impedia) e a ter mais os pés no chão em relacionamentos e Summer encontrou coragem para abrir seu coração e tentar se envolver mais fortemente com uma pessoa.

É bom ver algo assim, nos faz refletir no quanto valorizamos as pessoas ao nosso lado e no quanto elas são importantes para nós, mesmo que não do modo como gostaríamos.

Trailer do filme:

500 DIAS COM ELA
Estúdio: Fox Searchlights Pictures
Título original: 500 Days Of Summer
País de origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 2009
Direção: Marc Webb
Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber
Elenco: Joseph Gordon-Levitt (Tom Hansen), Zooey Deschanel (Summer Finn) e Chloë Grace Moretz (Rachel)

Filme observado por Tiago Oliveira.