La vuelta al mundo | Rumo a liberdade criativa

Criatividade é algo hoje muito difícil de encontrar, seja no cinema, na literatura, nas histórias em quadrinhos e também nos videoclipes musicais. Estes últimos perderam na última década espaço e importância, por conta dos altos custos, da rapidez que um sucesso dura e da queda de qualidade das emissoras focadas no nicho, assim como das próprias produções.

Vez ou outra, felizmente, nos deparamos com alguns que destoa aos demais. Algo bonito de se ver e que vai além da qualidade ou do gosto do que está sendo cantado/tocado. LA VUELTA AL MUNDO, da banda CALLE 13, é um destes.

Co-dirigido pelo argentino Juan José Campanella (vencedor do Oscar 2009 de Melhor Filme Estrangeiro com O Segredo de Seus Olhos), o curto vídeo brinca com a tal volta ao mundo da música usando como base um escritório e um belo uso de post-its.

Confira nesta Observação a sucessão dos fatos e a análise da composição letra-melodia-vídeo.

A LIBERTAÇÃO E A DECLARAÇÃO DE AMOR

“Yo soy la vida que ya tengo

Eduardo Cabra e René Perez, dupla de Calle 13

Tú eres la vida que me falta”
(Eu sou a vida que já tenho / Você é a vida que me falta)

Como forma analisar melhor a música, levemos em consideração um personagem-central (o cantor, que poderia ser muito bem homem ou mulher dependendo da voz), que nos contará aquele momento da sua história, através de seus sentimentos. Fora ele, há apenas mais um, a pessoa por quem está apaixonado, mas esta nunca se manifestará.

Nosso ‘colega’ é uma pessoa decidida, “Yo me muevo con el tempo / Soy las ganas de vivir” (Eu me movo com o tempo / Sou a vontade de viver). Não se prende a leitura, porque confia no que vê e não no que o contam. Não gosta da rotina, prefere ser livre. E acima de tudo sabe quem ama, pontuando isso em vários momentos.

“Tú eres el sol en mi cara
Cuando me levanta”
(Você é o sol na minha cara / Quando eu acordo)

“Tus ojos son mi ventana
Quiero correr por siete lagos
En un mismo día
Sentir encima de mis muslos
El clima de tus nalgas frías”
(Seus olhos são minha janela / Quero correr por sete lagos / Em um mesmo dia / Sentir em cima de minhas coxas / O clima de suas nádegas frias)

O MUNDO EM POST-IT

No vídeo temos uma situação diferente, mas nem tanto. Temos um personagem masculino, o qual acompanharemos com mais detalhes. Entretanto, aqui a presença de outro personagem, uma mulher, é bem mais forte e relevante para a história.

Ele parece ter um interesse escondido pela garota. Ambos trabalham em um escritório. Como forma de fugir da realidade, nosso acompanhante brinca de montar cenários em post-it. Já a moça, prefere colagens. Os dois refletem o mesmo desejo em suas artes: viajar mundo afora. Quando ele resolve tomar uma atitude, a garota é chamada pelo diretor do escritório. Antes, deixa cair uma de suas artes. Ele a recolhe do chão e a observa.

Imagem feita com colagens pela garota

Em um ato mal explicado, ela é severamente criticada por seu superior (aparentemente, repreendendo sua falta de atenção, já que vê uma das colagens que ela fez e balança em seu rosto como se estivesse perguntando ‘é isso que você anda fazendo?’). Ao vê-la chorar, rapidamente, o tal personagem masculino corre pelo local pegando todos os post-its que encontra pela frente e monta um belo cenário em todo o escritório, adaptando a arte de colagens que havia pegado no chão.

E reproduzida posteriormente por seu observador em post-it

Enquanto brincam com a situação, o diretor novamente aparece e os repreende. O rapaz o segura e, como metáfora (afinal, não é uma imagem real e sim o post-it), larga-o na rua, como se o tivesse jogado pela janela. Todos os demais funcionários do escritório o aplaudem e os dois vão embora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acompanhar um videoclipe musical é comprar a ideia daquele mundo imaginário criado. O mesmo acontece com filmes, livros, histórias em quadrinhos e qualquer outro tipo de arte. Aceitar essa questão torna tudo mais crível, ainda mais quando – assim como o vídeo de La Vuelta al Mundo – seja algo bem realizado e interessante.

Há uma ligação forte entre música e vídeo, e isso pode ser constatado pelo desejo dos personagens principais – o cantor e o funcionário do escritório – de largarem tudo e darem a tal volta ao mundo. Enquanto o primeiro declama isso através de sua melodia, o outro demonstra em sua curiosa arte em post-it.

A conclusão que os dois querem chegar também é a mesma: fazer-nos refletir sobre a ideia de que não devemos nos prender a pequenas coisas (livros, trabalhos, repreensões de superiores), o que vale é saber viver bem e feliz, independente de onde você esteja.

Chama a atenção, entretanto, a difícil tarefa de agradar a todos para cada um dos lados. Embora partam da mesma ideia, o mundo imaginário idealizado pelos diretores Juan José Campanella e Camilo Antolini no videoclipe tem muito mais chances de agradar justamente por fazer uso de imagens.

Já a banda Calle 13 precisa agradar em pelo menos quatro pontos: estilo musical (no caso, rap), gosto pela banda (você pode curtir rap, mas não determinado cantor), letra e melodia. Aqui ainda há o empecilho da língua para alguns, já que está em espanhol.

No final, fica ao espectador julgar. Gosto afinal não se discute.

Videoclipe da música:

CALLE 13 – LA VUELTA AL MUNDO
Letra da música: Calle 13 – René Pérez (Residente) e Eduardo Cabra (Visitante)
Cantores: Calle 13
Disco: Entren los que quieran
Direção do videoclipe musical: Juan José Campanella e Camilo Antolini
Ano de lançamento: 2012