Um jovem tímido convida uma bela garota para uma viagem de final de semana em Las Vegas. Poderia ser um dos filmes mais monótonos da face da Terra não fosse por um detalhe: ele é um nerd, que trabalha com computação e ganhou muito dinheiro neste ramo no último ano; ela uma stripper, o que não tira seu mérito de ser linda e sedutora.
O CENTRO DO MUNDO é um daqueles longas-metragens que, quando você chegar ao final, vai perceber que pouco ou quase nada ocorreu de fato. Pretende mostrar a fundo uma relação em que possivelmente um não entenderá o outro, vítimas de suas próprias complexidades pessoais.
A obra é permeada de cenas picantes, com algumas proibitivas caso você leve em consideração a faixa etária dos filmes que escolhe para assistir, inclusive a que envolve a capa do DVD.
Esta Observação evita tais polêmicas e busca entender a relação que existe entre o casal no longa, além das razões de cada um para as ações que tomarão.
A CABEÇA DE RICHARD
“É que eu trabalhei tanto. Eu só... Quero me divertir. Quero comemorar, entende?”
Richard Longman aparentemente é um cara solitário, viciado em computador e games, além de entendido do mundo de ações como ninguém. Este último ponto ainda lhe conferiu uma fortuna além do que saberia de fato usar consciente. Suas atitudes, em alguns momentos, deixam claro sua classificação como nerd, com brincadeiras bobas e o gasto de muitas horas na frente de jogos de computador.
Em termos de relacionamentos, tudo que sabemos – e quem nos conta é seu amigo e parceiro nos negócios Pete em um dos flashbacks com ele no filme – foi que namorava Debbie, mas isso já tem dois anos. Agora, a única pessoa que lhe atrai é uma garota que conheceu certo dia tomando café da manhã e que descobriu ser uma stripper.
A VIDA DE FLORENCE
“- Você não se parece com uma stripper?”
- Não? E com o que elas se parecem?”
Florence (“apenas Florence”) não parece muito satisfeita com a profissão que teve que seguir para conseguir dinheiro, mas não hesita em revelá-la para Richard quando este lhe pergunta o que faz da vida. Sua verdadeira paixão está na primeira opção que usa para responder, a bateria.
Não há flashbacks dela apenas no filme, o que torna complicado tentar entendê-la. Mas é possível detectar duas coisas: segue somente a si, não ligando muito para o efeito de suas atitudes nas outras pessoas; parece ser vítima da sociedade, com poucas opções na vida, além das que escolheu.
AH SIM, OS SENTIMENTOS...
Richard convence Florence a fazer a viagem lhe propondo 10 mil dólares, como forma de compensar os ganhos que deixaria de ter com os dias fora da boate onde trabalha. Ela, que o conhece apenas por seu ser seu cliente mais frequente, pede algumas condições, pois deixa claro que não faz sexo por dinheiro.
As iniciais são: nada de falar de sentimentos, nada de beijos na boca, sem penetração, pagamento em dinheiro e adiantado. Depois ainda acrescenta: três noites, um quarto para ficar sozinha e horário fixado entre as dez horas da noite e três da madrugada para o jogo sexual entre eles. Ele topa todas sem qualquer questionamento, “só quero conhecê-la melhor”.
O restante do filme é permeado pela estadia dos dois na 'Cidade do Pecado', com raras passagens que envolvam outros personagens. Para ser mais claro, só existem mais três relevantes. Pete, o amigo de Richard que só aparece em flashbacks; Jerri, a quem os dois visitam e Florence começa a perceber que nutre algo que não esperava por seu parceiro ao começar a sentir ciúmes; e Brian, que os encontra ao acaso em um restaurante e vira alvo de brincadeiras provocantes – com fortes consequências posteriormente –, concluindo o que havia sido iniciado durante a conversa deles com Jerri, e provocando o fim.
NASCIMENTO EM LAS VEGAS
Ao assistir este filme é inevitável não se recordar de outro, muito semelhante tanto em sua estrutura – com o uso de poucos personagens e muito centrada apenas nos protagonistas – quanto na escolha da cidade para sediar a história.
Despedida em Las Vegas, de 1995, contou a história de Ben Sanderson, um decadente roteirista de cinema que decide entregar sua vida àquela cidade do estado de Nevada, torrando até seu último centavo em putas e bebidas. Eis que em seu caminho surge a prostituta Sera que, ao invés de modificar a vida de Ben, é ela quem tem sua vida repensada a partir do que vem a lhe ocorrer.
As coincidências não terminam por aí.
- Florence e Sera não tem sobrenome.
- As profissões das duas são parecidas.
- No fim dos filmes, elas são abusadas.
- O final mexe, aparentemente, mais com as duas do que com Richard e Ben.
Apesar disso, são filmes distintos. Os dois protagonistas homens diferem bastante em personalidade e em motivações para irem até Las Vegas, e são eles que dão a individualidade para cada uma das obras. Embora podemos julgar que os finais são tristes para os dois, um morre e o outro fica só.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É complicado entender relações, ainda mais quando elas pouco ou nada concluem. Richard nunca deixa claro o que realmente sente por Florence, mas declara-se como um jovem em sua primeira relação sexual de fato. Já ela é a primeira a deflagrar seu sentimento, mas não para ele, e sim o revelando para uma amiga no telefone.
Ao que parece a quebra da regra mais importante levantada por ela entre as condições para viajar é a grande falha de Richard. Ele se deixou levar pelo momento e soltou a frase – “Eu amo você” – meio que como um suspiro para prolongar o que sabia estar no fim. A relação entre eles enquanto pagante/stripper revela-se muito mais sólida, tanto que o final do filme é a repetição desta cena – não deixando claro se apenas queria mostrar que essa era a relação que funcionava ou se ela voltou a se repetir após o final trágico da ida a Las Vegas.
Resta aos dois apenas seguir com suas vidas, recordando o que lhes acontecera e tomando como exemplo para relações futuras.
Confira do trailer do filme:
O CENTRO DO MUNDO
Estúdio: Independente
Título original: The Center of the World
País de origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 2001
Direção: Wayne Wang
Roteiro: Wayne Wang, Miranda July, Paul Auster, Siri Hustvedt e Ellen Benjamin Wong
Elenco: Peter Sarsgaard (Richard Longman), Molly Parker (Florence), Carla Gugino (Jerri), Jason McCabe (Pete) e Balthazar Getty (Brian)
Parece ser legal!
ResponderExcluirVou ver!
:D
Mari, esse filme só tem um problema: encontrar ele! rs. Assim que terminei de escrever este texto, ele saiu do Netflix porque não renovaram o contrato de exibição e na internet também não é tão fácil achar para download. Mas vale a pena! Beijos.
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