Diz a profecia que um homem vestindo um robe azul irá surgir em um campo dourado e forjará o elo, outrora perdido, com a terra. Ele levará todo mundo, finalmente, a uma terra de pureza azul.
A antiga lenda se mostrou equivocada em apenas um detalhe: não será um homem, mas sim uma princesa a restaurar o equilíbrio. Esta princesa chama-se Nausicaä.
Inspirada em uma lenda japonesa do século 12, NAUSICAÄ DO VALE DO VENTO é uma animação dirigida, em 1984, por Hayao Miyazaki. Graças a esse filme tivemos o surgimento do, hoje consagrado, estúdio Ghibli.
Esta Observação tem como objetivo mostrar porque esta obra é uma das mais cativantes e importantes da animação nipônica.
A PRINCESA QUE AMAVA INSETOS
Há cerca de mil anos, a civilização sofreu um colapso. “Os sete dias de fogo” destruíram boa parte do planeta, e os humanos – antes dominantes – viram sua supremacia ser substituída pela dos insetos, mais especificamente os gigantes Ohmu. Além disso, grande porção da Terra ficou coberta por uma floresta que contém ar tóxico para a humanidade e poucos são os lugares onde as pessoas podem viver. Um deles é o Vale do Vento.
E é lá que vive Nausicaä, uma princesa nada convencional. Ela adora voar, é corajosa e tem uma grande simpatia pelos insetos. Amada por todos em sua vila, no filme a heroína luta para descobrir as causas de como o mundo ficou desse jeito e tenta evitar que sua terra natal seja engolida pelos insetos malignos e pelos ares tóxicos.
Adaptado dos dois primeiros volumes do mangá Nausicaä (também escrito por Hayao Miyazaki, que demorou 12 anos para finalizá-lo, entre 1982 e 1994), o filme aborda temas universais como a relação do ser humano com o meio ambiente e o medo e a intolerância com o desconhecido. A princesa na história, entretanto, surge como uma antítese a este último ponto e aos demais personagens, vemos claramente a forma diferenciada com que Nausicaä lida com situações de tensão e perigo envolvendo o outro (seja animal ou humano). A cena em que ela conhece Teto, sua raposa de estimação, por exemplo, logo no início do filme, elucida a postura pacífica que a princesa mantém durante toda a animação.
A garota oferece seu dedo para que Teto a morda, o que ele faz imediatamente. Ela, no entanto, não reage, apenas para mostrar ao bicho que não há o que temer, e com isso consegue amansá-lo e, como consequência, o carinho do animal. De fato, a única vez em que a princesa perde o controle é quando ela, revoltada, mata os homens do exército que tirou a vida de seu pai. Comportamento este que deixou a própria princesa revoltada consigo mesma.
A ignorância com relação ao ar das plantas é também uma mostra de como a falta de compreensão dos homens pode levar a atitudes ou conclusões erradas: Nausicaä descobre sozinha que não são as plantas que poluem o ambiente, mas sim o solo. Se criadas em ambiente limpo, elas crescem saudáveis e puras.
Por fim, temos a cena em que a princesa tenta evitar que o exército de Ohmu chegue até o Vale do Vento. Sacrificando sua própria vida em prol de seu povo, ela é ressuscitada pelos próprios inimigos, ratificando assim, a paz entre os homens e os insetos.
UM VENTO DE INSPIRAÇÃO!
Além da parte técnica (segundo o diretor, a cena perto do fim onde um dos deuses ressurge foi umas das mais difíceis de serem feitas) e do enredo envolvente, Nausicaä do Vale do Vento foi importante por ser o marco inicial de um dos maiores produtores de animação do mundo: o estúdio Ghibli.
Formado logo após o lançamento do anime, Ghibli teve como embrião o estúdio Top Craft, que fora contratado pela famosa distribuidora Tokuma para fazer Nausicaä. Com o sucesso do filme, a Tokuma quis mais trabalhos com a direção de Hayao Miyazaki e, com isso, muitos da equipe do Top Craft seguiram o artista para o recém-criado estúdio.
Ghibli significa “quente vento do deserto do Sahara”. A intenção de Miyazaki, seu criador, era de que o nome simbolizasse um sopro, um vento inspirador e que mudasse para melhor a animação japonesa. Hoje o estúdio é conhecido mundialmente através de obras como Laputa e A Viagem de Chihiro, com um acordo de distribuição de muitos de seus filmes ao redor do globo pela Disney.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as características que marcam os filmes de Miyazaki estão em Nausicaä, como, por exemplo: a mulher como principal personagem da trama – assim como em Serviço de Entregas de Kiki e A Viagem de Chihiro; o amor por voar e por batalhas aéreas (Porco Rosso e Laputa); a relação entre meio ambiente e homem (Princesa Mononoke); e a inconfundível música de Joe Hisashi, compositor da maioria das trilhas sonoras do estúdio.
A ressurreição de Nausicaä, cumprindo a profecia inicial |
Além da mensagem pacífica, Nausicaä é um exemplo de animação feita tanto para adultos como para crianças. O carisma da princesa é o ponto forte da obra, que mesmo sendo muito nova, parece ter a sabedoria de gerações. Deixa a lição de que o diálogo, a paciência e o pacifismo ainda são os melhores modos de se chegar à paz, afinal, ela conseguiu tocar os corações de insetos cheios de ódio com sua coragem e determinação. Convencer um ser humano a não lutar com próximo deve ser mais fácil... ou pelo menos deveria ser.
Confira o trailer da animação:
Estúdio: Top Craft
Título original: Kaze no Tani no Naushika
País de origem: Japão
Ano de lançamento: 1984
Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Animação observada por Tiago Oliveira.
Nausicaä é polemico, belo e controverso... Particularmente eu amo Princesa Mononoke mas Nausicaä é maravilhoso e merece destaque como um épico que é. Bela coluna como sempre...
ResponderExcluirEu gosto bastante de Princesa Mononoke, mas prefiro A Viagem de Chihiro. Meu amigo Tiago Oliveira, entretanto, prefere mesmo Nausicaä e foi o escolhido por ele quando pedi um texto sobre alguma obra do Miyazaki. E confesso que ainda não tive o prazer de conferir Nausicaä, mas adorei o texto que ele fez.
ExcluirAbraços, meu bom amigo, é sempre um prazer ler seus comentários aqui.
Nausicaä é recomendadíssimo.
ResponderExcluirPremiada pelo WWF como uma história sobre a conscientização da proteção ao meio ambiente, mas ela é muito mais que isso.
Princesa Mononoke é muito mais polêmico e controverso. Veja a versão Japonesa(original) pois a americana para "facilitar" o entendimento da história a mutilou, exemplo, escolhendo um lado, mostrando este é bom e este é ruim, enquanto que no filme ninguém é bom e ninguém é ruim, nossos atos podem ser bons ou ruins dependendo do ponto de vista e principalmente de quem sofre as consequências.
Poderia recomendar mais 2 filmes. Sussurros do coração e Túmulo dos Vagalumes
Sussuros do coração é um filme simples, singelo eu diria que fala das belas coisas de nosso dia a dia e a descoberta da paixão, das responsabilidades, sonhos... e com uma bela música de abertura, "country roads" de John Denver, observando a letra da música, já se começa a entender o espírito do filme.
Túmulo do vagalumes é um dos mais, se não o mais triste filme que já vi, é forte, como disse triste(mas sem ser depressivo) passa uma mensagem antiguerra (diria anti-estupidez humana) e te faz pensar em suas atitudes na vida. Este é p/ marcar as pessoas que o veem.
bem, já escrevi muito :)
Espero que vejam estes filmes que falei.
abraços e bom final de ano
CignusRJ
Olá, CignusRJ. Obrigado pelos comentários, servem para enriquecer o texto acima.
ExcluirJá assisti Princesa Mononoke e na versão japonesa. Gosto bastante. Quanto aos demais que indicou não conheço, mas vou procurar. Valeu pelas dicas!
Abraços e bom final de ano.