O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares | A história daquelas fotografias
“Era difícil saber se ele estava falando sério. Por outro lado, meu avô não era um piadista. E franziu o cenho ao ler a desconfiança em meu rosto.
- Tudo bem, você não precisa acreditar apenas porque estou dizendo. Tenho fotos”.
Há um motivo especial do trecho acima ter sido selecionado para abrir esta Observação. Em O ORFANATO DA SRTA. PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES, de Ransom Riggs, a base da história está em velhas e estranhas fotografias. Veja bem, não é um livro de fotos, mas sim uma obra literária feita a partir delas. Vou explicar melhor em breve, mas antes um breve resumo:
Tudo está à espera para ser descoberto neste romance que tenta misturar ficção e fotografia. A história começa com uma tragédia familiar que lança Jacob, um rapaz de 16 anos, em uma jornada até uma ilha remota na costa do País de Gales, onde descobre as ruínas de um orfanato. Enquanto Jacob explora os quartos e corredores abandonados, fica claro que as crianças do orfanato não são o que imaginava. Elas podem ter sido perigosas e confinadas na ilha deserta por um bom motivo. E, de algum modo - por mais impossível que possa parecer - ainda podem estar vivas.
MUNDO ESTRANHO, CRIANÇAS ESTRANHAS
Existe uma frase de Tim Burton na contracapa do livro, no qual ele diz:
“Vocês têm certeza de que não fui eu quem escreveu esse livro? Parece algo que eu teria feito...”
E de fato, quando a leitura tem início, parece. Jacob passa a infância ouvindo as histórias de seu avô, “ele tinha crescido em um orfanato, lutado em guerras, cruzado oceanos a bordo de navios a vapor e desertos a cavalo”. O que de fato o intriga é a dose de aparente fantasia que o conhecido como vovô Portman inseria em suas narrativas.
Te lembra algo?
Em Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas, Tim Burton nos apresenta uma trama semelhante. A diferença é que, ao invés do neto, o protagonista é o filho do velho contador de histórias extraordinárias, e ele parte em busca da verdade e acaba descobrindo que seu pai não mentiu tanto assim.
Semelhanças a parte, O Orfanato da Srta. Peregrine se desenvolve muito bem e consegue se distanciar do referido filme. A descoberta das tais crianças peculiares e de seu mundo em 3 de setembro de 1940 nos prende e muitas vezes nos deixa sem fôlego até seu final.
Alguns ‘poréns’, entretanto, são estranhos. Como o fato do romance entre o protagonista e a garota que namorava seu avô:
“Eu vou, mas não vou beijá-la, disse para mim mesmo. Repeti isso como um mantra enquanto ela me conduzia pela charneca pantanosa. A namorada do vovô, a namorada do vovô, não a beije!”
E os exageros do autor para exemplificar algum acontecimento, como:
“Subi correndo as escadas e fui até o quarto de Emma. O interior era uma imagem de frustração que podia muito bem ter saído de uma obra de Norman Rockwell, se Norman Rockwell retratasse pessoas cumprindo pena na cadeia”.
“(...) e quando tornei a abrir os olhos vi que a tesoura estava enlameado da charneca, e quando tornei a abrir os olhos vi que a tesoura estava enterrada no globo ocular da fera, que berrava como dez porcos sendo castrados, se retorcia e se debatia na lama amolecida pela chuva (...)”.
E AS TAIS FOTOS?
A ideia de procurar a história por trás de fotografias bizarras faz parte de uma pesquisa particular de Ransom Riggs. Em seu site é possível identificar que o autor é extremamente fanático por elas, e quanto mais diferente elas forem melhor.
“Eu tenho um hobby incomum: coleciono fotos de pessoas que não conheço. Comecei a colecionar alguns anos atrás - em encontros de troca, lojas de antiguidades e afins -, mas a única coisa que me fez iniciar não foram as fotos e sim os rabiscos que eu, por vezes, encontrava nas costas”.
Em sua ainda curta trajetória carreira como escritor, Riggs conseguiu trabalhar seu hobby de duas maneiras diferentes:
- O Orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares: onde ele cria uma história fictícia a partir de fotografias antigas.
- Talking Pictures – Images and massages rescued from the past (em tradução literal, Fotos que falam – Imagens e mensagens resgatas do passado): onde ele conta histórias reais (ou o mais próximo disso) de fotografias antigas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E a história, você vai me perguntar? O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares começa um tanto insosso, mas melhora bastante no decorrer da leitura. O desenvolvimento das tais crianças peculiares é o melhor momento, e ajuda no andamento do livro. Mesmo o relacionamento de Jacob com a tal namorada do avô é interessante, ainda que um pouco estranha de início.
O ruim é se aproximar do final e perceber que a trama não conclui ali, com Riggs nos devendo agora uma continuação que mostre o destino de Jacob e seus companheiros. Ansiosos, no mínimo, ele nos deixa!
O ORFANATO DA SRTA. PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES
Título original: Miss Peregrine’s: home for peculiar children
Autor: Ransom Riggs
Tradutor: Edmundo Barreiro e Marcia Blasques
Editora: LeYa
Páginas: 336
Ano de lançamento: 2011
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Poderiam fazer um filme hein? Só as fotos das crianças já assustam bastante hahahaha!
ResponderExcluirPelo que eu pesquisei já tem um filme em produção com o nome do próprio Burton envolvido, mas ainda não confirmado se como diretor ou produtor. Mas me parece muito teen para ele. Vamos ver! rs
ExcluirEssa história é de terror? Você o recomendaria para um jovem ler?
ResponderExcluirOlá, Larissa. Primeiro, obrigado pelo comentário!
ExcluirQuanto a sua dúvida, é sim uma história de terror, mas não é uma história pesada. Pelo contrário, é tranquilo e rápido de ler. Não sei se você tem medo fácil, ainda mais em uma leitura, mas pode se assustar em alguns pontos. Mas leve. Recomendo sim!