O Show de Truman | Bom dia, boa tarde e boa noite


Capa do filme O Show de Truman - O Show da Vida“Toda a vida de um ser humano gravada em uma rede de câmeras escondidas e transmitida ao vivo e sem cortes, 24 horas por dia, 7 dias por semana, a telespectadores no mundo todo”.

Não, não é o Big Brother, muito menos A Fazenda. É O SHOW DE TRUMAN - O SHOW DA VIDA, filme do diretor australiano Peter Weir de 1998, que nos conta a vida de Truman Burbank, um homem adotado por uma empresa quando ainda era um bebê e que tem sua vida transformada em um reality show. Todos ao seu redor sabem disso (são pagos para isso até!), menos Truman.

Essa Observação vai mostrar como o filme de Weir, embora possua uma ideia absurda e porque não surreal, diz muito sobre a televisão e a sociedade atual...então...sintam-se a vontade para dar uma espiadinha!

NADA AQUI É FALSO, APENAS MERAMENTE CONTROLADO!

Truman Burbank, personagem fictício vivido por Jim Carrey no filme O Show de Truman - O Show da VidaTruman Burbank, interpretado por Jim Carrey, é um corretor de seguros. Ele segue sua rotina diária de acordar e ir para o trabalho. Porém, em uma manhã, antes de entrar em seu carro, vê um objeto estranho cair do céu. O objeto é um holofote do show de TV que o tem como personagem principal.

Claramente um deslize da produção, o erro é logo corrigido e ao entrar em seu carro, Truman - possível referência a True Man (homem de verdade, real em inglês) ouve no rádio: “Aeronave com problemas derrubou suas partes ao voar sobre Seahaven”. Ilha de Seahaven é, na verdade, um gigantesco estúdio construído especialmente para ser o cenário da vida do personagem de Carrey.

Meryl, esposa de Truman no filme O Show de Truman - O Show da Vida
A divertida Meryl (Laura Linney), esposa de Truman,
inserindo uma propaganda no programa
Tudo isso é dirigido e orquestrado dentro de uma enorme estrutura chamada Ecosfera OmniCam, espécie de lua que comanda todas as ações dentro da cidade cinematográfica. E essas ações são arquitetadas por um sujeito chamado Christof (referência cristã?), criador do show. É de sua mente, por exemplo, que surgem ideias como a morte do pai de Truman (um ator, claro!) em alto mar. Cena produzida para inserir na então criança o medo de viajar pela água e assim não abandonar a ilha. Christof também escolhe os interesses amorosos de Truman e, literalmente, diz a hora em que o sol nasce ou se põe em Seahaven, funcionando assim, como um Deus daquele mundo. Outra personagem interessante e hilária é a mulher de Burbank, que não perde a chance de fazer merchandising durante o show, e provavelmente faturar algo a mais com isso, assim como entre os apresentadores na vida real.

Obviamente, ao longo de anos de transmissão, algumas pessoas tentaram entrar no show para mostrar a verdade a Truman, como a personagem Sylvia, crítica voraz do programa de Christof. O enredo do filme se desenvolve com o protagonista desconfiando aos poucos de que tudo a sua volta é falso e culmina com o corretor de seguros descobrindo um modo de sair de Seahaven.

VOCÊ ESTÁ NA TELEVISÃO!

Peter Weir, diretor do filme O Show de Truman - O Show da Vida, entre outros.
Peter Weir
Lançado em 1998, no começo da febre dos reality shows, O Show de Truman nos dá uma ideia de como funciona a produção de um programa dessa estirpe. Na parte técnica,  Peter Weir fez, em algumas partes, uso do estilo de filmagem chamado Vinheta (imagem do cilindro da lente aparece na imagem gerada, muito comum em filmes da era do cinema mudo) para dar ao espectador a sensação de que estamos espiando aquela vida.

Cristof, personagem do filme estadunidense O Show de Truman - O Show da Vida
O reservado Cristof (Ed Harris), diretor
do reality show da vida de Truman
O sentimento de superficialidade e aceitação do absurdo predomina. Enclausurar um ser humano, sem ele saber, ainda criança, fez muito sucesso com o público. Aliás, o público é outro personagem importante. As pessoas acompanharam  Truman do seu primeiro passo até o momento em que ele deixa o reality (e depois também, quem sabe?) dando a audiência necessária para que o programa durasse 30 anos! Por conta disso, chama a atenção a curiosa e extremamente irônica cena onde um apresentador entrevista Christof e o agradece por seu tempo, já que o chefe da Ecosfera OmniCam preza demais por sua privacidade.

Como se trata de um reality show, a impressão é que mesmo a sequência final do programa foi um evento previsto para ser televisionado. A cena em que Truman acha a porta de saída  parece um gran finale escrito em um roteiro já previsto por Christof, que pergunta, cinicamente, para o rapaz, antes dele sair de Seahaven: “Não vai dizer nada? Você está na televisão!”

Cena do filme estadunidense O Show de Truman - O Show da Vida
Truman descobre que sua vida é uma farsa
O indivíduo isolado em um mundo que lhe parece estranho e a luta para mudar sua realidade é um tema recorrente nos filmes de Weir (Sociedade dos Poetas Mortos, A Costa do Mosquito). Alguns podem apontar o enredo de O Show de Truman como sendo um pouco superficial, não explorando a fundo os personagens. No entanto, cabe esclarecer que uma de suas marcas na direção é o foco na atmosfera e não na história. E mesmo a falta de aprofundamento, a meu ver, intencional, é uma sátira aos reality shows, repletos de personagens fúteis e superficiais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma reflexão que a obra levanta é a relação entre o público e o conteúdo televisivo. Até onde uma emissora pode ir para conseguir audiência? O público tem culpa do que vê na TV ou apenas é influenciado por ela?

Se temos programas que exploram a desgraça humana é porque as pessoas assistem. Culpar apenas a televisão pelo conteúdo é uma atitude precipitada. O espectador tem papel crucial na construção de uma programação melhor.

O Show de Truman - O Show da Vida é uma sátira aos tempos modernos onde ter privacidade em um mundo cada vez mais vigiado, cheio de câmeras e redes sociais é um privilégio árduo de se conseguir.

Confira o trailer do filme:

GIF animado do filme estadunidense O Show de Truman - O Show da Vida
"E se eu não os ver novamente: boa tarde, boa noite e
durmam bem!"
O SHOW DE TRUMAN - O SHOW DA VIDA
Estúdio: Scott Rudin Productions
Título original: The Truman Show
País de origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 1998
Diretor: Peter Weir
Roteiro: Andrew Niccol

Filme observado por Tiago Oliveira.

23 comentários:

  1. Respostas
    1. Um cara chato só pode achar este filme chato mesmo, sr. João Paulo! rsrsrs. Esse filme é um dos meus favoritos (a atuação do Jim Carrey é muito boa!). Mas já que o tópico deve-se ao texto e não ao filme, então, faço minhas observações sobre as observações do Tiago Oliveira.

      Discordo de sua análise em dois pontos:

      - Sylvia: não acho que a personagem forçou sua entrada no programa para avisar Truman da verdade. Acho que sua cabeça foi mudando na medida em que se apaixonava por ele.

      - Final do filme: na minha opinião, Cristof não imaginava o fim do seu programa desta forma. Sua tese (e isso é mencionado na entrevista que dá) é de que "aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes". Ele depois fala que o programa é "uma vida", logo, o que dá a entender, é que ele esperava mostrar uma vida em usa totalidade: nascimento, desenvolvimento e morte.

      É isso. De qualquer forma, ficou muito bom o texto!

      obs.: embora eu seja editor do blog, respeito ao máximo a opinião dos demais autores, portanto minha opinião sobre o filme foi colocada apenas em forma de comentário.

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    2. O filme retrata de certa forma uma crítica à sociedade atual. Porém, eu acho chato o filme... simples, mas não que seja ruim, pelo contrário.

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    3. Como você pode achar um filme bom e chato ao mesmo tempo? rs

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  2. Obrigado, Tiago!

    Esse é um aspecto legal do filme, várias interpretações são possíveis.

    Sobre Sylvia, ela é meio que um mistério. Como na ilha existem vários atores, fico na dúvida se ela tinha um papel planejado ou se Truman foi atrás dela criando uma situação inesperada para Christof. No entanto, Sylvia também tentou avisar Truman da fraude. Revendo o trecho, você pode ter razão sim.

    Sobre o fim, continuo com minha opinião. Talvez Christof não esperasse que isso fosse acontecer naquele momento.

    Fico feliz em ter escrito, novamente, para o blog. Abraços!

    OBS: João Paulo, obrigado pela opinião, porém não concordo rsrsrs

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  3. Tiago, usei um pouquinho do meu precioso tempo para ler a análise, também depois da dura que você nos deu na faculdade né? Brincadeira... Li porque creio que quem ganha disparado somos nós os leitores. Muito bom viu, criarei o hábito de ler e ler sempre.

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    1. Olá, Sil. Fico felicíssimo de vê-la aqui! As pessoas às vezes me levam a sério demais, fiz um comentário brincando, justamente porque coincidiu de uma história em quadrinhos que emprestei para o Chris ter sido alvo de análise aqui. Sempre pensei no meu blog como um local onde as pessoas, meus amigos ou não, possam vir quando julgarem o tema relevante para si. Ninguém é obrigado a ler tudo, leia sobre aquelas obras que gostar ou estiver curiosa...rs. Beijos e fico feliz que tenha gostado!

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  4. Gosto do filme? não? Boa tarde, boa noite.....

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    1. Ao menos seu comentário foi criativo....rs. Mas se não gosta do filme não precisava tê-lo feito.

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    2. Mas eu gosto do filme, soh prefiro o: eu, eu mesmo e irene do jim por causa da renee uooou

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    3. Entendi. Eu gosto de Eu, eu mesmo e Irene. Mas meu preferido do Jim Carrey ainda é Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. E tem Kate Winslet e Kirsten Dunst...rs.

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  5. ESSE FILME SEM DUVIDA FOI A MELHOR COISA QUE JÁ VI!!! ENCABEÇA MINHA LISTA DE MELHORES!
    Jim Carrey esta brilhante em sua atuação!!!!

    Eu recomendo infinitamente este longa!

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    1. Olá, Patrique, tudo bem? Esse filme é realmente genial, é puro talento do Jim Carrey! Obrigado pelo seu comentário!

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  6. O filme é ótimo, o grande problema é ser curto demais

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    1. Realmente, Torquato, o filme é ótimo mesmo. Quanto a duração, às vezes explorar demais algo pode prejudicar o resultado. Acho que condensaram bem as ideias. Abraços e obrigado por comentar!

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  7. Merecia uma continuação.hehe
    Esse filme é otimo!
    agrada a todas faixas etárias.
    sei disso,pq sei como é dificil agradar adolescentes...
    e no começo,quando começamos a assistir o filme (na escola)
    todos achamos q seria chato,por ser um pouco antigo...na epoca q a maioria nasceu (1998) e foi totalmente ao contrario,todos gostaram,tanto,q ficaram quietinhos prestando atenção...milagre hehe...adorei! ^^

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    1. Realmente é um filme para marcar, independente de quando se assiste e quantos anos tem. Obrigado pelo comentário! Abraços.

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  8. Pela primeira vez na minha vida eu tive vontade de bater palmas depois de assistir um filme.

    As atuações são perfeitas. O roteiro também, apesar de achar que o filme poderia ser mais longo. É o tipo de filme que não me importaria se tivesse 03:00 horas ou mais de duração.

    A cena final onde os dois polícias que até então era aficionados pelo show e logo após o fim nem se dão ao trabalho de refletir sobre o que aconteceu e já buscam qualquer outra coisa na TV fecha o filme com perfeição.

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    1. É realmente sensacional, Emerson! Concordamos com você...abraços e obrigado pelo comentário!

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  9. Eu recordava vagamente que esse filme era bom, porém quando o assisti eu era muito novo para compreender o seu imenso valor, a sua rica gama de interpretações e reflexões.

    Desse modo, quando o revi recentemente, agora mais maduro, pude contemplar em sua totalidade uma obra singular e inspiradora. Acredito que tratar o filme como apenas uma crítica à influência midiática nas nossas vidas é ofuscar o seu potencial como contestação da nossa realidade, do comodismo, da prisão invisível a que,, imperceptivelmente, nos submetemos por conveniência e medo do desconhecido. É, indubitavelmente, uma análise criativa e inusitada sobre a verdadeira liberdade de um homem comum, como a grande maioria de nós, a única diferença é que a "redoma" a qual Truman se liberta no final é concreta, é literal.

    Falar de injustiças no Oscar é pleonasmo, mas é, no mínimo, incompreensível a ausência do filme na categoria de Melhor Filme em 1999, bem como a ilógica ausência de Jim Carrey na categoria de Melhor Ator, sendo que o mesmo venceu o Globo de Ouro por Melhor Ator em Drama pelo seu preciso desempenho no filme. Essa indiferença se torna ainda mais grave, ao lembrar que a Academia premiou o somente mediano Shakespeare Apaixonado como Melhor Filme daquele ano, certamente "O Show de Truman" merecia melhor sorte. Ao menos, o roteiro genial de Andrew Niccol foi premiado.

    Em suma, "O Show de Truman" é um filme que merece ser visto e revisto dada as suas vastas qualidades, é também o grande trunfo de Jim Carrey sobre os olhares preconceituosos dos críticos acerca de sua capacidade dramática como ator.




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    1. Olá, Vitor. Muito obrigado pelo seu comentário. Acho que você foi bastante preciso em suas palavras e concordo bastante com o que disse. Quanto a não indicação do Jim Carrey, na época eu li que deveu-se pela figura dele ser bastante ligada a comédia (o que a Academia na época não apreciava, mas isso mudou ao longo dos anos).

      E faço minha defesa quanto a Shakespeare Apaixonado. É um excelente filme, talvez não merecesse tanto quanto O Show de Truman, mas é muito bem idealizado e produzido.

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  10. Alguém me pode falar um pouco mais especificamente da personagem principal???

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    1. Rodrigo, sem querer parecer grosseiro, mas já foi dito muito sobre ele no texto e em alguns comentários acima. Abraços e obrigado pelo comentário.

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