Já sabe de quem estamos falando? Ele mesmo, um dos maiores clássicos da literatura de horror: O MÉDICO E O MONSTRO, de Robert Louis Stevenson.
Entretanto, já adianto que não encontrará aqui uma defesa da obra. Pelo contrário, o objetivo deste texto é demonstrar que certas histórias podem perder o fôlego com o passar dos anos, mesmo ser perder o brilho e a importância.
Vamos lá?
COM UM MONSTRO DENTRO SI
As pessoas podem não ler o livro clássico, mas muito provavelmente já conhecem a história de Jekyll e Hyde.

Nascido no século XVIII com o livro Castle of Otranto (1764), de Horace Walpole, o gênero horror tem como características principais a provocação de medo em seus leitores, seja de forma emocional, psicológica ou física. A obra de Walpole ganhou destaque por incorporar pela primeira vez elementos do sobrenatural, em detrimento da realidade. Seguiu-se Vathek (1786), de William Beckford; The Mysteries of Udolpho (1794) e The Italian (1796), ambos por Ann Radcliffe; e The Monk (1797), de Matthew Lewis.
Mas foi no século seguinte que o gênero recebeu maior destaque, com as publicações de Frankenstein (1818), de Mary Shelley; contos de Edgar Allan Poe; O Médico e o Monstro, de Stevenson; O Retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde; e Drácula (1987), de Bram Stocker.
Estas obras ganharam muita força ainda com o nascimento do cinema, principalmente em sua fase preto e branco.
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H. P. Lovecraft (1890 - 1937) |
“A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido”.
DECADÊNCIA DO HORROR
Sim, o subtítulo acima é para chamar a atenção. O gênero horror não se encontra em decadência, mas perdeu muito do apelo com a ascensão de outros dois: o terror e o suspense.
Suspense é um sentimento de incerteza ou ansiedade mediante as consequências de determinado fato, mais frequentemente referente à perceptividade da audiência em um trabalho dramático. Não é, porém, uma exclusividade da ficção, pode ocorrer em qualquer situação onde há a possibilidade de um grande evento ou um momento dramático, com a tensão como emoção primária mediante a situação.
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Alfred Hitchcock (1899 - 1980) |
Já o gênero terror é comumente confundido por horror, visto que uma linha bastante tênue separa os depois. A diferenciação, segundo Ann Radcliffe, existe no fato do terror ser geralmente descrito como o sentimento de medo e expectativa que precede uma experiência terrível. Enquanto o horror está associado ao sentimento de repulsa que geralmente ocorre depois que algo assustador é visto ou ouvido.
Destaque entre as obras de terror destaca-se: Bruxa de Blair (1999), Jogos Mortais (2004 - 2010) e Atividade Paranormal (2007 - 2012).
OBRAS A PARTIR DO CLÁSSICO
A primeira adaptação para outra mídia começou cedo, logo em 1887, com a peça Thomas Russell Sullivan's Dr. Jekyll and Mr. Hyde, exibida em Boston. Nos cinemas, a primeira data de 1908 e não possui mais cópias, perdendo-se totalmente no limbo cinematográfico. Já nos dias atuais, coube a TV uma adaptação digna da obra, com produção de Steven Moffat (Doctor Who) para a emissora inglesa BBC.

Outra prova de que o personagem de dupla personalidade já está inserido na cultura moderna é sua participação também em desenhos animados, como Pernalonga e Tom e Jerry.
Em um episódio bastante famoso da série Looney Tunes, intitulado O Coelho e o Monstro (Hyde and Hare, no original), de 1955, Pernalonga finge se deixar atrair por um doutor de nome Jekyll para conseguir conforto. Mas ao chegar à casa do médico depara-se com uma monstruosidade. No fim, até mesmo o protagonista acaba transformado, após ingerir a bebida que transformara o doutor no Senhor Hyde.
A referência na animação de Tom e Jerry é ainda mais antiga, de 1947, no episódio O Médico e o Monstrinho (Dr. Jekyll and Mr. Mouse, no original), que tem direção de William Hanna e Joseph Barbera. Na história, Tom não consegue evitar que Jerry tome seu leite, então resolve se vingar, inventando uma fórmula que o livraria de uma vez por todas do rato. Entretanto, a fórmula transforma Jerry em um monstro bem forte e é ele quem sofre as consequências.
Isso sem mencionar obras em que o próprio personagem (Hyde/Jekyll) está presente, caso do filme Van Helsing – O caçador de monstros e da HQ A Liga Extraordinária, de Alan Moore.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias de hoje, o horror em si pouco amedronta, porque já foi mostrado de todas as maneiras em livros, histórias em quadrinhos, filmes e séries. A obra trabalhada não deixa de ser um clássico porque ainda oferece para a cultura um elemento desenvolvido por ela que é a dupla personalidade, a existência de um monstro dentro de uma pessoa ‘de bem’.
Mas é inevitável citá-la como superada, justamente pelo cinema, que possui um alcance muito maior e por conta disso mais presente na sociedade, não conseguir trabalhar grandes obras do gênero. ‘Monstros’ como Freddy Krueger, Jason, Palhaço Assassino e Chucky – O boneco assassino; ou mesmo os clássicos Drácula, Frankenstein, Múmia, Lobisomem e Monstro do Lago Ness, já não oferecem boas histórias para espectadores e leitores no mundo.

Ainda assim a leitura é recomendável porque através dos clássicos é possível entender boa parte das histórias atuais, além de ter um acompanhamento das épocas em que foram escritos.
O MÉDICO E O MONSTRO
Título original: Dr. Jekyll and Mr. Hyde
Autor: Robert Louis Stevenson
Editora: L&PM
Páginas: 112
Ano de lançamento: 2002
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