Garo | Quando o terror encontra o cavaleiro dourado

“Onde há luz, as trevas espreitam e o medo reina. Mas pela espada dos Cavaleiros, a humanidade encontrou esperança”.

Essa frase abre os episódios de GARO. A série foi exibida entre outubro de 2005 e março de 2006 e é focada em Kouga Saejima, um Cavaleiro Makkai, que usa sua espada e a armadura dourada de Garo, para caçar Horrors, demônios que vem à Terra para devorar pessoas.

Em uma dessas caçadas, Kouga protege a jovem Kaoru, que acaba banhada pelo sangue de um Horror. Embora a regra mande exterminar qualquer pessoa na condição da moça, Kouga decide poupa-la e mantê-la próxima a ele. Afinal, o ‘prato’ favorito dos Horrors é justamente pessoas que tiveram contato com sangue de outros Horrors e isso deve atrair as bestas para cima dela, facilitando a missão. Mas qual será o destino de Kaoru?

Na Observação a seguir, você conhece o interessante universo de GARO, uma série que vai mudar a sua forma de enxergar os tokusatsus.

A CAÇADA COMEÇA

O primeiro episódio de Garo começa como um bom filme de terror. Uma noite de tempestade, com um homem sozinho entrando no depósito de uma galeria de arte, isso lá pelas tantas da noite, e desembalando um quadro. De repente, a pintura de uma bela mulher com os seios à mostra salta de dentro da moldura para tomar conta do corpo do funcionário desavisado. Nesse meio tempo, a jovem Kaoru Mitsuki, cujo sonho e ser uma pintora famosa, chega ao local para acertar os detalhes de sua exposição, que começaria no dia seguinte.

A cena seguinte mostra um rapaz alto trajando uma roupa de couro preta e um vasto sobretudo branco por cima treinando com sua espada entre machados que saem das sombras com sua espada. A seção é interrompida por um mordomo trazendo um envelope. Este atende pelo nome de Gonza e o jovem é Kouga Saejima, um Cavaleiro Makkai. Já a mensagem é uma ordem para que Kouga comece a cumprir sua missão: eliminar Horrors. Ainda na sala, uma terceira voz, vinda do que parece ser um rádio. É Zaruba, o anel em forma de caveira estilizada que o cavaleiro usa em sua mão esquerda. Zaruba é um anel Madou, um acessório forjado com mágica para detectar e identificar Horrors, facilitando o combate para o Cavaleiro.

Não demora para que Zaruba e Kouga sejam atraídos pela aura negativa ao redor da galeria e encontrem o Horror que possuiu o curador do lugar se preparando para devorar Kaoru, que nada desconfia. Ao se encontrarem, Kouga utiliza outra de suas ferramentas, o Isqueiro Madou, cuja chama verde é capaz de revelar os seres humanos possuídos pelo reflexo dos olhos. É então que o Horror se revela, atacando com jatos de gosma ácida, o Cavaleiro saca a espada e a luta começa.

Em dado momento, Kouga decide que a luta precisa acabar e faz um corte em forma de círculo acima de si. Dele, desce uma bela armadura dourada cujo elmo se assemelha à cabeça de um lobo. É a armadura de Garo, cuja luz transforma instantaneamente a espada de Kouga. Os ataques do Horror já não fazem mais efeito e um golpe é o suficiente para dar cabo do demônio. Porém, o sangue da criatura acaba respingando em Kaoru, que antes de se dar conta já está com a espada do Cavaleiro Dourado em direção ao seu pescoço com o mesmo dizendo que ela precisa morrer. Kouga, no entanto, desiste e a moça desmaia.

Mais tarde, vemos Kaoru despertando em casa com Kouga a seu lado para verificar se ela estava bem. Ao confirmar isso, ele vai embora e ela então se lembra de um livro que via quando criança, ilustrado por seu pai, onde um cavaleiro dourado aparece enfrentando criaturas feitas de sombra. Termina assim o primeiro encontro de Kouga e Kaoru.

MITOLOGIA MAKKAI

Ter poupado a moça ficou caro para Kouga e ele é obrigado a prestar contas às três sacerdotisas. As meninas, que contam com um mordomo sisudo, são responsáveis por purificar a espada do Cavaleiro Makkai. A cada novo Horror exterminado, o jovem precisa enfiar sua espada em uma máquina na forma de uma cabeça de lobo para que a alma da criatura seja transformada em uma pequena lâmina (espadas e machados são as formas mais comuns) para ser devolvida à sua dimensão.

Quando revela seu plano de usá-la como isca para atrair monstros, as três perguntam se ele pretende deixar que o pior aconteça com a moça. É então que ficamos sabendo que Kaoru está condenada de qualquer jeito, uma vez que após o centésimo dia, a pessoa banhada com o sangue de um Horror morre após passar por uma agonia intensa – como se não bastasse ela ser caçada como refeição do dia até isso ocorrer. Sempre frio e com poucas palavras, Kouga diz que sabe o destino dela e que não deixará chegar a este ponto.

No decorrer dos episódios, é revelado que os Horrors utilizam objetos carregados de energia Yin (a parte escura do símbolo Yin/Yang, que significa as trevas e o silêncio) como portais para chegar ao nosso mundo. E, que estes escolhem pessoas com as almas carregadas de ódio e outros ressentimentos para possuir e, como não poderia deixa de ser, atacar Kaoru.

Entretanto, outros elementos da mitologia de Garo são revelados, como o Padre Amon, um sacerdote Makkai encarregado de fazer a manutenção nas ferramentas de Kouga, como Zaruba e o Isqueiro Madou. Nesse episódio são revelados dois pontos importantes. O primeiro é que Kouga herdou a armadura, Zaruba e o título de Garo de seu pai, morto por um Horror na sua frente.  O segundo é que Kouga pretende salvar Kaoru, a quem já havia se afeiçoado. O padre então revela que existe uma fruta em uma floresta amaldiçoada que pode salvar a vida da garota e se compromete a ir buscá-la assim que a hora chegar.

O CAVALEIRO DAS PRESAS PRATEADAS

Como se não bastassem os Horrors, que aparecem incessantemente, Kouga precisa lidar com um rival. Outro Cavaleiro Makkai chamado Rei Suzumura que veste uma armadura semelhante á de Garo – invocada da mesma maneira,inclusive –, porém prateada e com duas espadas como armas. Rei carrega o título de Cavaleiro das Presas Prateadas e culpa outro Cavaleiro Makkai pelo assassinato de sua amada. O embate entre ambos é inevitável e durante a luta, é explicado algo que já ficava subentendido antes. Cada vez que as armaduras se manifestam, aparece uma ampulheta e tem início a contagem regressiva que começa em 99.9 segundos. Esse é o tempo limite para que as armaduras se manifestem, desaparecendo em seguida.

Rei também carrega uma joia Madou, o colar com semblante e voz feminina que atende pelo nome de Silva (se pronuncia Shilva) e ambos, ainda que relutantes, lutam lado a lado com Kouga e Zaruba para derrotar Horrors. Nos episódios que se seguem, Kaoru pede a Rei que procure se dar bem com Kouga, que reluta, mas reconsidera após descobrir que o Cavaleiro Dourado não tirou a vida de sua namorada.
É nesse ponto, seguido pelo misterioso assassinato do Padre Amón, que as coisas começam a se complicar. Além de investigar a conspiração que paira no ar, cabe agora a Kouga enfrentar uma floresta amaldiçoada para buscar a fruta que pode salvar Kaoru, cujo tempo está se esgotando. Contar mais sobre a série a partir daqui é estragar a diversão de quem pretende ver a série, mas eu já adianto algumas coisas: o passado do Cavaleiro Dourado voltará a assombra-lo e existe uma razão para as armaduras terem a cabeça de feras como elmos e ela não é nada agradável.

SÓ PARA MAIORES

Garo é um dos poucos tokusatsus direcionados para o público adulto, por conta da violência e das cenas de nudez. No entanto, essa última parte fica limitada a apenas um topless vez ou outra e mesmo as cenas de violência não são totalmente explicitas. Ou seja, perto de Game of Trones ou Spartacus, por exemplo, Garo é um programa infantil.

Aqui, o uso das sombras e dos efeitos sonoros ajudam a criar uma atmosfera de suspense apavorante. Aqui vale a menção para alguns episódios brilhantemente perturbadores, como ‘Escultura’, na qual um escultor pode moldar suas modelos movendo – e arrancando – membros; ‘Anel’, que conta a história de um Horror que possui uma garota serial killer cujo alvo é pianistas da cidade; e ‘Aquário’, onde um técnico em informática usa pessoas para alimentar um Horror na forma de sereia.

A série também aborda alguns temas recorrentes da sociedade japonesa, que muitas vezes passam despercebidos para o público dos tokus e ocidentais em geral. Entre eles a solidão das pessoas, a devoção ao trabalho e até mesmo a prostituição. Essa abordagem mais pesada, ainda que inserida em um contexto de herói uniformizado, foi o suficiente para que Garo fosse exibido de madrugada, lá pela 1h30 da manhã na TV Tokyo.

O seriado também se vale de sua posição de tokusatsu para flertar com o gênero, no qual quem está vendo já espera o personagem vestir a armadura ao som da música tema e dar cabo do monstro da vez. Todavia, há episódios onde isso não acontece e que nem por isso deixam de ser interessantes e de apresentar sua contribuição para a trama.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que faz Garo ser tão interessante não é apenas a mitologia criada para a série, que aproveita o melhor das histórias de samurai e de cavaleiros medievais, misturando magia e misticismo. A produção caprichada, com destaque para os bons efeitos visuais e a coreografia bem feita das lutas – que transformam o já batido ‘kung-fu de arame’ em algo fluído e bonito de se ver – são trunfos da série. Há também uma curiosidade interessante: a voz de Zaruba é de Hironobu Kageyama, conhecido aqui por interpretar música tema dos Changeman.

Há, claro, o terror. A insinuação nas cenas mais fortes é justamente o ponto forte desse tokusatsu. Principalmente em tempos nos quais jogar vísceras na tela e torturas gore se tornaram a definição do gênero. Se os americanos copiam muita coisa dos japoneses – e está aí Power Rangers e outros que não me deixam mentir – arrisco dizer que talvez Garo possa ser o que eles precisam para reinventar o cinema de horror, tão desgastado nos últimos tempos.

O sucesso fez com que a série ganhasse três especiais para cinema e ainda mais duas temporadas. A segunda, intitulada Garo: Makai Senki, que foi ao ar entre outubro de 2011 e março de 2012 e a terceira, cujo debute foi em abril deste ano e o encerramento em setembro. Mas, cada uma é um arco fechado. As histórias começam e terminam dentro de uma mesma temporada. Há alguns ganchos, claro, mas nada que comprometa o entendimento.

GARO 
Títulos Original: GARO
Título no Ocidente: Fanged Wolf
Criado por Keita Amemyia (Kamen Rider ZO, Zeiram)
Direção: Makoto Yokoyama e Kengo Kaji
Design de Criaturas: Yasuhi Nirasawa (Kamen Rider Den-O, Kamen Rider Blade e Kamen Rider Kabuto)
Ano de lançamento: 2005
Ano de encerramento: 2006
Número de episódios: 25
Elenco: Ryosei Konishi (Kouga Saejima), Mika Hijii (Kaoru Mitsuki), Ray Fujita (Rei Suzumura), Yukijiro Hotaru (Gonza Kurahash), Hironobu Kageyama (Anel Madou Zaruba [voz]) e
 Ai Orikasa (Colar Madou Silva [voz])

Tokusatsu observado por Carlos Bazela.

Um comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...