A Invenção de Morel | A máquina fantástica

“Discuti com o seu autor os pormenores da trama; reli-a. Não me parece imprecisão ou hipérbole classificá-la de perfeita”.

A frase acima é de autoria de Jorge Luis Borges, no prólogo de A INVENÇÃO DE MOREL, de Adolfo Bioy Casares.

Um das obras mais importantes da literatura fantástica, lançada em 1940, é a história sobre um fugitivo que vai para uma ilha misteriosa. Perfeita? Você pode discordar de Borges, mas uma coisa é certa, você vai querer lê-la mais de uma vez!

Entre nessa Observação conosco e descubra mais sobre a literatura fantástica e uma de suas obras mais interessantes.

O CONSTRUTOR DE MUNDOS

Imaginário como inspiração. Elementos que não estão presentes na realidade cotidiana. Experiências oníricas. Essas são algumas das principais características da literatura fantástica. Por abarcar uma gama enorme de gêneros (contos góticos, ficção científica, por exemplo) é difícil definir esse tipo de literatura.

Livro escrito por Borges
e Casares assinado
originalmente por Bustos
Domecq

Adolfo Bioy Casares nasceu na Argentina, em 1902 e morreu em 1999. Foi reconhecido tardiamente como grande escritor. Um de seus grandes amigos era Borges (A Invenção de Morel é dedicada a ele), talvez o mais famoso e respeitado escritor da literatura fantástica.

Fã de James Joyce, Casares cresceu ouvindo histórias contadas por sua mãe que o influenciaram em sua escrita. Mesmo com a fama não deixou “(...) de ser o mesmo homem simples, avesso à tecnologia, caçoando frequentemente dos extremos a que chegaram, em certas civilizações, o progresso e a divisão do trabalho (...)”.

Não há como negar. A América Latina tem uma tradição fortíssima dentro da literatura fantástica. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez e Ficções, de Borges, são duas das obras mais conhecidas desse estilo.

Nas palavras do escritor uruguaio Danubio Torres Fierro, “ler Casares é entrar num labirinto de onde surge, deformada, uma imagem de universo: corredores escuros povoados de fantasmas, iluminados subitamente pelos relâmpagos de lucidez”.

HOJE, NESSA, ILHA, ACONTECEU UM MILAGRE...

Adolfo Bioy Casares

A fama de A Invenção de Morel é menor, mas não deve em nada as duas obras citadas anteriormente. Não são contos reunidos, como em Ficções, ou muito menos possui diversos personagens excêntricos e hilários, como na obra de Márquez. É a saga de um fugitivo que julgado pela lei tenta se refugiar em uma ilha. A história é contada em primeira pessoa, sob o ponto de vista do refugiado.

A ilha possui um mistério. Suspeita-se que nela houve uma epidemia que matou muitas pessoas a tornando deserta. Porém, o narrador encontra alguns ‘visitantes’ e teme ser descoberto. Uma dessas pessoas chama sua atenção: a bela Faustine. Obcecado, ele tenta chamar sua atenção de todas as formas, mas é ignorado. Se a presença desses visitantes não bastasse para dar um tom bizarro à obra, um dia o refugiado acorda e se depara com dois sóis... sim, isso mesmo que você leu!

Poucos personagens e enredo quase inexistente. Esse clima minimalista lembra um pouco o jogo ICO, outra obra observada aqui. Citando, mais uma vez o prólogo de Borges: “Nestas páginas, Adolfo Bioy Casares (...) desenvolve uma odisseia de prodígios que não parecem admitir outra clave a não ser a da alucinação ou a do símbolo, e decifra-os plenamente mediante um único postulado fantástico, mas não sobrenatural”.

Versão editada pela Círculo do Livro

O exemplar que li da obra é da extinta editora Círculo do Livro. Curiosamente, o título desta edição é diferente. O original foi alterado para A Máquina Fantástica. Além dessa mudança, vale citar as notas do editor, que em alguns momentos corrige o autor e até mesmo exclui partes do texto original por achá-las desnecessárias! No mínimo cômico, não?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Imortalidade é assunto presente na literatura contemporânea, vide a saga Crepúsculo. Temos também uma epidemia de séries com vampiros e zumbis. Se você se interessa pelo assunto, A Invenção de Morel é uma boa forma de olhar para esse tema com outros olhos. O que começa como uma aparente história de amor termina como uma reflexão sobre os esforços de um homem para conseguir a vida eterna.

A INVENÇÃO DE MOREL (ou A MÁQUINA FANTÁSTICA)
País de origem: Argentina
Ano de lançamento: 1940
Autor: Adolfo Bioy Casares
Editora: Círculo do Livro

Livro observado por Tiago Oliveira.